Travesseiro

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Os nossos filhos já tinham nome
Nenhum sonho passava fome
Como um ciclo não se consome
O sono agora some
Não creio que foi tão momentâneo
O futuro era certeiro e espontâneo
O presente tão costumeiro tão rotineiro
E sem mais nem nada, foi-se ligeiro
Foi o que eu fiz? Mas o que fiz?
Foi falta de fazer? Eu tinha como saber?
Há jeito de consertar? Você sabe que eu quis
Eu queria um destino, você tão indecisa
Tão sem sentido e não precisa
E eu já pensando em Ezequiel e Maria Luiza
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Começos bons

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O ano era 2016
Eu atravessava a rua
Pra pegar o 513L-10
Quase sempre atrasado
Eu e o transporte
Quase nunca rejeitado
Mesmo quase sem sorte.
A sorte era tua
De ter esse zero à esquerda
Sempre com nova queda
Largando moeda
Pra te ver no cinema
A janela era pequena
De tempo e visão
A gente num esquema
Já tocava o coração
Pra quem seguia o lema
Álcool, rap e pegação
Você burlou meu sistema
Virou a única opção
Agora anos se passaram
E já não somos conhecidos
Passaram e se acabaram
Meus tempos destemidos
Contudo, contundido
Esperanças afogadas
Respiro num mar de derrota
Um idiota de anedota
Sem caminho, sem rota.

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Shiu!

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Tem silêncios diferentes
Há os ditos indiferentes
E os maledicentes
O último mente
Quanto ao que tem em mente
Silêncio que machuca,
A brasa que pega na nuca
Mas se joga com a mão.
Um espírito inquieto então
Assim segue enfim.
Os silêncios indiferentes
São os teus, de olhar e só
Ignorar até o pó
Por não lhe interessar.
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Uma pena

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Se não bater as asas, o pássaro cai.
Se bater fraco, ele se mantém.
Se bater forte, ele vai subir.
O pássaro, em momento nenhum, sai do nível que quer. Isso faz parte da liberdade do pássaro; ele sempre sabe quão alto ele quer estar, qual caminho ele deve seguir. Quase nunca você vai ver pássaros se batendo no céu, afinal, as nuvens não ocupam espaço, logo, não há porque brigar por este.
Mesmo assim, pássaros não voam todos no mesmo nível. Uns voam mais baixo, uns mais alto- outros, nem voam- e são felizes assim.
Eu queria a liberdade dos pássaros.

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Pareço, pra ti, poeta?

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Pareço, pra ti, poeta, meu amor?
Andando pelas ruas descalço
Amando a ti por todo espaço?
Pareço poeta que fala da dor?
Ou nos meus odes não realço
As mazelas, pareço aço?
Pareço poeta ao falar
Da minha cidade
De como passei nela minha mocidade?
Lhe pareço poeta quando me declaro?
Ou lhe falta amparo
Emocional para despir
E sentir
Tudo aquilo que me tira o ar
Seria absurdo
Ou de acordo
Com normal
A sós em momento tal
Me declarar
Com intensidade
De quem amanhã estará morto?
Te tiraria o ar?
Cheguemos no finalmente
Parece até de repente
Mas te amo profundamente

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A tua imagem

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Você é uma daquelas pessoas que eu sempre olhei de longe, ficava pensando como a gente daria certo. Daquelas de olhar foto e ver que a cor dos nossos olhos se balanceia e que seríamos fotogênicos.
Na verdade, quando via seu feed, percebia como eu podia ser bom pra você; tanto ali, no social, quanto no pessoal. Temos os mesmos interesses mas não temos nada em comum.
Eu sempre vi você e pensei como eu seria um bom namorado, melhor do que qualquer um seu até agora. Eu ia dormir na sua casa e te levar café na cama. Mesmo que todos fizessem isso, o meu é diferente. Eu desenho um coração, suas iniciais, um passarinho defeituoso na crema no expresso. Eu faço expresso. Eu pegaria textos e decoraria pra você.
Eu sempre achei que daríamos certo, mas nunca acertei se dá pra eu ser feliz.

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Dias de poeta

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Tanta poesia
Com a dor que já senti
No momento é cada um por si
Mas a gente se entendia
Bate as ideias forte
Dá epilepsia
Imediatamente
Seria assim eternamente
Poetas de tanto lugar
Unidos pela dor de estar
A agonia
De ser.
Com vossos poemas posso contar
Para voltar a harmonia
Nos meus dias de poeta
Quando a mente não fica quieta.

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Tragédia não, crônica

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Mediante tantos questionamentos, gerados pelo momento social e época do ano, todos têm objetivos e querem algo. Inserido nesse contexto, você deve se perguntar: quais são minhas expectativas para mim?

Você quer emagrecer? Quer enriquecer? Precisa estudar mais? Já se esforçou e precisa de descanso? Terapia vai te fazer bem? Você está feliz, ou tem potência para?

Algumas respostas doerão. O peso precisa ser perdido, mas falta genética. O dinheiro é almejado, porém a crise cada vez mais aperta. O tempo de trabalho toma cada vez mais o de estudo. Não é porque se precisa que se terá- isso se encaixa para felicidade também. Não é porque a necessidade de ser feliz existe (talvez pela ditadura do bem-estar ou questões psicológicas) que ela será suprida.

Pelo momento social, fé em valores ou qualquer parâmetro existente, o mundo tem expectativas para você. Estudar, estudar, prova. Mais provas até vestibular. Se não passar, volte ao início, se der certo, volte ao início novamente. Provas e provas até concursos, entrevistas de emprego, sucesso profissional. Se tiver ou não, há de se achar amor- ah, desejo mesquinho de não estar sozinho. Procure o par perfeito- não, ele te encontrará. Enquanto isso, pegue e largue o que vier. Case, tenha filhos (de preferência 2, um menino e menina, para dá-lo a primeira playboy e ensiná-la bons modos). Aposente-se sem nenhuma conquista grandiosa por você, sem ser, quem sabe, um campeonato de futebol ganho entre ex-colegas de faculdade. Morra e tenha flores no enterro, mas um epitáfio genérico (o além condiz o aquém).

Pegue as suas expectativas consigo e subtraia as sociais: esse é o futuro mais miserável possível, e o único plausível com sua moral de rebanho não superada.

De mais vale, indo contra a escravidão da vontade geral- democracia de porcos -saia da ignorância maior num grito de individualidade falho, e vá até o topo do prédio onde mora (e faltam somente 20 prestações para quitá-lo) e tire as vestes- por um momento lembra-se de alguma notícia haver com 3 da tarde, mas ignora o pensamento.

Tenha o último lapso de unidade consigo enquanto cai e tire seus grilhões junto da vida.

-R.C.

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Da cidade sobre as serras

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Na cidade pequena
O caminho dos pais é o destino dos filhos
A prole não contracena
Só assume paulatinamente os trilhos
Já na cidade grande
O caminho dos pais muda o destino dos próximos
Porém a opção se expande
A definição vem com os anos
É meu cemitério de vidas
De mim tiradas
Melhor dizendo, arrancadas
Como posso enterrar mais uma vez
Uma que continua sem mim?
Não há como evitar o luto
Pois luto para convencer-me
A deixar ir o morto
E planejar o novo com alegria
Mas não deixo de ver uma sangria
De relações humanas não-frias
Na verdade muito realistas e calorosas
Não são muitas listas,
Mas ali são amorosas
Pois bem,
Mais amores vou jogar ao além
Desta vez de amigo, eros, não importa quem.
Minhas escolhas agora importam
Mas meu psicológico cheio de emoções
Não se suportam.
Não sou de cidade pequena
Pouco importa meus pais no meu futuro
Sou protagonista desta cena
Da humanidade grito, não sussuro
Nasci na cidade grande
E o jeito dos meus pais, sigo por confiança
O medo do que vem muito arde
Mas é liberdade sem fiança.

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Meio louco

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Não me leve a mal, não me acho normal e tudo mais, mas ao olhar pra tudo eu vejo loucura generalizada- mas não loucura igual.
Uns lêem Marx, Engels, Mao Tsé e ficam loucos com o sistema. Eles esquecem tudo e resolvem lutar com todas suas forças contra ele. Ao 1º momento, é um ideal. No segundo, você sai à luta por ele. No terceiro, quebra um banco. No quarto, mata alguém. “Mas por que fazer isso?” “Eles são contra, só querem escravizar…”. O problema é que essa reação parece muito com outra.
Tem gente que trabalha 70% dos seus dias, sofre de gastrite (toma café pra ficar disposto pra trabalhar), câncer (relaxa fumando seu cigarrinho), insônia (logo, toma remédios pra dormir), depressão… e não recebe 60% do que deveria (sem contar o trabalho não pago). Ainda por cima, após tudo isso, clama por mais trabalho e critica quem luta contra. Não só crítica, mas pratica violência contra. Estão loucos de sistema.
Não me leve a mal, não sou a favor de um sistema como esse, que mata gente, sufoca vida e enlouquece de tantas maneiras… mas é realmente necessário cair nos extremos assim?
O mundo cria coisas tão diferentes, dá para não exagerar.
Tem gente que fica bem louco com tudo quanto é droga, tem gente que se tem química não chega perto.
Tem gente que nega deus e não aceita nada sequer próximo, e também outras que vivem de religião.
Há boas loucuras e más… porém não seria melhor um equilíbrio normal?
 

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