Travesseiro

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Os nossos filhos já tinham nome
Nenhum sonho passava fome
Como um ciclo não se consome
O sono agora some
Não creio que foi tão momentâneo
O futuro era certeiro e espontâneo
O presente tão costumeiro tão rotineiro
E sem mais nem nada, foi-se ligeiro
Foi o que eu fiz? Mas o que fiz?
Foi falta de fazer? Eu tinha como saber?
Há jeito de consertar? Você sabe que eu quis
Eu queria um destino, você tão indecisa
Tão sem sentido e não precisa
E eu já pensando em Ezequiel e Maria Luiza
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Caos, só caos

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Quer-se da vida
Fazer romance,
Mas o passado
É o que acontece
Nada mais que acontecimento
Atrás de esquecimento.
Vive-se no hábito
Situação cômica
Querem ligar todo fato
Mas é livro de crônica.

-R.C.

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Décimo sexto dia

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Hoje, novamente
Comemoro num cemitério
Mesmo tendo sangue quente
Não o levo a sério
Pela segunda vez
Canto a cantiga
No amado português
Não uma menos amiga
Não quero que seja
Antiga tradição
Mas o destino me cheira
À dura traição
Destinado a viver fora.
Fora de mim,
Fora do agora
Fora do grupo, continuo assim
Sem pertencer
Só morte
Não consigo manter
Minha sorte
Lápide detalhista
Poético epitáfio
Se minha morte fosse mal-quista
Contra ela haveriam mil
Mas não, só eu
Num caixão moderno
De quem viaja ou morreu
Ocasião para terno.
Minha sorte não existe
Nem o destino
Nem Deus que hesite
Para socorrer este meino
Nasci na família errada,
No dia errado,
Na idade errada,
E comemoro errado
Celebro a série de falhas
Acidentais até aqui
De novo no sétimo dia
Anterior ao sétimo dia.

-R.C.

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Contemporaneidades- Pós modernismo

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Já não se morre de amor
Só cigarro, álcool e coca
Valoriza-se menos a overdose do que a dor
De viver sem determinada boca
Ai de mim nos tempos modernos
 
O charuto não é moda
E a todos que isso incomoda
Preserva-se o estilo, mas não a convenção
De acendê-lo para continuar a conversação
Ai de mim nos tempos modernos
 
A música sequer tem violino,
Tudo elétrico, eletrônico
Ouvi-la requer força, como num supino
Já que é tudo quase supersônico
Ai de mim nos tempos modernos
 
Saudade do mundo difícil
Tão simplificado
A nova geração é cheia de imbecil
Tudo de mal virá duplicado
Ai de mim nos tempos modernos

-R.C.

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