Ao menos vi um pouco além

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Tô tentando achar um equilíbrio
Um meio do caminho
Entre morrer sem limites tão cedo
Ou viver feito velhinho
O suficiente pra olhar pra trás
E ter consciência de que se houvesse mais,
Via menos
Consciência de que viver para sempre
Não podemos
Mas posso ao menos ver meus netos
Mas posso ao menos escrever livros

Enfim,
Há muita vida a ser vivida
Pra gastar numa rotina suicida
Mas também a vida é curta demais
Pra viver num constante estado de paz.

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Cobertor vivo

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As montanhas são cobertas por árvores
E as plantas a base em seu chão
Cai sal na pia de mármore
Do tipo que esteve em sua formação
Sem misticismo só constatação
Tudo vem do Tao, para ele volta
A presença ausente e a ausência presente.
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Ódio intrínseco

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Algo que odeio e o quanto eu quero te odiar
Mas não consigo
Eu queria bater a porta, trancar, jogar a chave longe
Meter móveis na frente
Tudo pra não ver nada que toque tu
Rupi Kaur acertou na mosca:
O ar não tem uso,
A luz não é bem vinda,
A água sujismunda.
Mas não consigo.
Se fosse eu no teu lugar, não me perdoaria.
-R.C.
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Solilóquio

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Estar a sós é um exercício
Quando começa, parece tão difícil,
Mas necessário, instigado e executado
Como tivesse endorfina, dá prazer sem estrago
Porém  pode doer sem querer, quem sabe
Pra ser sincero, nunca se sabe
Às vezes acordo sem vontade e estar comigo é punição
Em outros tenho certeza que só preciso de atenção
E até quando o dia é pesado, aumentando tensão
Pode ser que eu resolva no diálogo
Ou solilóquio de papel na mão.
Não sempre cabe ficar sozinho, por isso é uma arte
A oscilação do desejo também faz parte.
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Eulogy

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I have written, in the course of my life, more poems declaring my death than I can count- and I thought it would be a thousand other ways- but if there’s something for which I did not get ready, that is a eulogy for myself.  Funny right?  Last thing I would think of writing about. But here am I. In some way, I feel like Bras Cubas, from Machado de Assis’ novel, that wrote ‘to the worm who first gnawed on the cold flesh of my corpse, I dedicate with fond remembrance these Posthumous Memoirs’.

I died having a delirium. Can you believe it? Is there any more stupid way to leave? I don’t actually know. What I do know, though, is that I did not see it coming. I mean, as I told you, I always wondered about how I would die, and I kept fantasizing about that very last moment; would I die in my sleep? Would it be in an accident? What kind? Car, airplane, train? Would I be killed? Would I kill myself? I don’t know. I guess, after years desiring for a remarkable death, a final event to eternalize myself in history, the Universe made a fun prank: I’m doomed to be in this after life remembering of everything, except this last moment.

Don’t get me wrong, please. It’s not like I had a miserable life and wanted to be relieved from all the suffering in it- no, I had, such as pretty much everyone around here, a normal meaningless life. For sure, I had moments of sadness, but after, moments of happiness. I tried to change things, and they didn’t. Some others did. I had many lovers through the years and also many heartbreaks. I had the gift of art, but I never wrote something that I thought was worth showing to someone. I was a socialist that never saw equality, I lived an average life without knowing what to do. Now, I don’t know why those moments happened the way they did, whatever happened.

I remember that I was in my room, it was Saturday, and I started seeing things. Nothing very exciting, to be honest, but I’ll tell you anyhow. I saw a woman, beside my bed. She was holding a book or something similar, looking at my pillow like there was someone else there. Her lips moved, but didn’t reproduce any sound, and it seemed like she was trying to turn one of the last pages. I went there to help her with it, and, when I tried to reach her, boom. End. After that, I wonder what happened.

I mean, that doesn’t make any sense at all. First because I lived alone, and therefore I was all alone in the house. Second because I had really good audition, even though I was epileptic, I had to take medicine for anxiety, and some other disfunctions and therefore I would listen if there was sound. Third and last, because it had been years since I had illusions, and nothing changed in the last month, week or anything that could cause that. It was simply… weird. That’s why I ask again, why? Why in that moment, why that way?

Perhaps it was a punishment. After so many years playing with such tragic ideas, having pessimism as a personal philosophy, playing god in literature, I would die in the most stupid way. Maybe not. If I really push myself to think about it, there are worst ways to leave. I could have slipped in a banana or been runned over by a bunch of clown cars.

Maybe it was only a consequence. It’s not like I was very aware when making decisions- I was always going from bar to bar, having whiskey as my best friend; I used all drugs you can imagine for no specific reason- once, I took lsd to went to work, simply because I wanted to see the colors in the clothes we sold in a brighter way. Perhaps after putting so many substances in my body, it broke.

Anyhow, it’s still funny to me. Funny how I spent so much time thinking about how I would die, and how nothing that’s passing through my head helps me remember that god damn moment. [touches head with anger]. Ouch. Wait a moment… there is something missing there. Why does my head hurt? Shit! I know! I remember what happened! Ok, that just got dumber, but that happens.

So, I was in my room, and I saw that woman, and I reached her. When I did, there was some sort of light going into my room, and it flicked a couple times… the friction somehow made me have a convulsion, then I fell on the floor and my head hit the corner of my bed. Dammit, that’s so… random. I guess… If I had no specific reason to come to earth, there’s no reason for leaving it. There isn’t anyone out there to answer my question, nor comfort my soul. And that’s fine.

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Escalas

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Adão corre. Sai correndo pelo corredor extenso e frio da saída do avião. Somente com uma mochila levemente preenchida e uma garrafa d’água nas mãos, não podia ser mais econômico quanto a espaço e bagagem. Muita gente olha. Quem sabe julgando-o por marcar escalas tão próximas, quem sabe só observando. Ele tem pressa. Muita pressa.

Saindo do portão A1, ele olha para os lados e busca uma tela para ver o voo com destino à Bagdá. Os olhos passam rápido pela tela e finalmente, encontra-D1. Coincidência? Talvez. Mas, se tratando do aeroporto de Dalas, um dos maiores do mundo, tudo é possível. Ele é preenchido pela sensação de ansiedade, como se fosse a madrugada antes de um passeio de escola.

Caminhando com velocidade, seus olhos passam pelos olhos estranhos, buscando familiaridade em cores, sentimentos, letras e números. Tantos olhos. Sem nome e sem personalidade, barro a ser moldado no momento no qual ele faria uma pergunta. Mas nada. Não que ele esperasse encontrar algo ali, mas a ansiedade não o deixava pensar normalmente, racionalmente. Era como se fosse controlado por algo, mesmo que fosse dono de suas ações.

Depois de muitos olhos, corpos, três letras e uma quantidade impressionante de números, chega no bendito portão. D1. O avião havia acabado de chegar, pela quantidade de movimento entre os comissários de bordo e passageiros. Ele vê um banheiro a poucos passos, então resolve ir até lá, molhar o rosto, retocar o desodorante, escovar os dentes e etc.

Olhando-se no espelho, a euforia o fez ver cores nunca antes percebidas em seu próprio rosto. Sua pele tinha tons não lembrados- era como olhar-se pela primeira vez seu reflexo. Após 12 horas de voo até ali, era inacreditável como parecia que tudo tinha começado exatamente ali.

Saindo do banheiro, escaneia novamente os olhos do ambiente. Dessa vez, ele encontra.

Era Lilian, uma antiga paixão de adolescente e recém-adulto. Quanto tempo havia passado desde que se viam! Imediatamente ela avista ele também, e dão um abraço. Aquele cheiro era impressionantemente nostálgico, como bolo de chuva. Remetia a uma maciez, uma inocência, persistência tão distantes, mas extremamente recentes. Para Adão, era quase como fosse seu primeiro amor, novamente.

Eles conversam; ela sobre seu tempo em Bagdá, sobre todas belezas, as pesquisas, o seu envolvimento com a política internacional, guerras intelectuais- e destoa por 4 minutos ininterruptos. Ele só ouve-a discursar, atento ao dito, mas com olhares para os trejeitos. A boca articuladíssima, a imposição que tinha tanto pelos gestos quanto pela escolha das palavras, o olhar duro (parecia relembrar enquanto falava, como se, mesmo olhando nos olhos de Adão, visse algo a mais; a guerra, as crianças pelas quais lutava, as irmãs tiradas de situação abusiva, a quantidade enorme de homens reprovando-a por ser ‘forte demais’), a tensão carregada nos ombros.

Terminando o discurso, eles caminham até o café mais próximo dali- o voo dela seria em 1 hora, então ela não tem pressa como disse. A conversa desenvolve para campos mais nostálgicos; de repente, lembravam aos poucos do namoro, curto, mas relevantíssimo, altamente influente apesar de aparentar só um caso de poucos meses- afinal, relacionamentos devem ser grandes (ou eternos). O passado fica para trás, mas não deixa de influenciar o presente. Sem mais delongas, ao perceber que ela não tem compromisso algum, Adão toma o primeiro passo e a beija.

O resto não é relevante para o detalhe, apesar de já passar na mente do leitor. Após muitos beijos, conversa, ela entra no avião e voa de volta para casa, longe dali e longe da casa de Adão. O pequeno caso do passado desenrolou em um pequeno caso no presente, e vira pretérito novamente. E tudo bem.

Pouco depois de ela ir embora, Adão recebe uma ligação. É Luís. Ele atende e já houve questionamentos de todos os tipos, mas focados no fato de ele ter sumido, do nada, e ficado 12 horas desaparecido. Não há resposta do porquê, mas afirma que já está voltando.

“Você viajou pra onde dessa vez?”
“Dalas.”
“Ela sabe que já aconteceu algumas vezes?”
“Não. E nem precisa. Essa é a última vez.”
“Ave… após dez anos? Você contou a ela dos teus filhos? Da esposa?”
“Não. Só queria vê-la entre meu voo de ida e de volta.”
“E como você sabia? Arriscou?”
“Eu nunca arrisco. Foi só uma transição.”
“O que falo?”
“Que tive uma emergência. Não é como se ela tivesse opção.”

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Nosso tempo

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Foi incrível
Você, inacreditável,
Pois eu fiz tanto
Pra ser agradável
Que me foi espanto
Quando sem entretanto
Acabou.

-R.C.

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Minha água

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Nunca foi bom chorar,
Mas de uns tempos pra cá
Acho que as lágrimas ficaram ácidas.
É como sentir fisicamente a podridão da minha alma.

-R.C.

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Travesseiro

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Os nossos filhos já tinham nome
Nenhum sonho passava fome
Como um ciclo não se consome
O sono agora some
Não creio que foi tão momentâneo
O futuro era certeiro e espontâneo
O presente tão costumeiro tão rotineiro
E sem mais nem nada, foi-se ligeiro
Foi o que eu fiz? Mas o que fiz?
Foi falta de fazer? Eu tinha como saber?
Há jeito de consertar? Você sabe que eu quis
Eu queria um destino, você tão indecisa
Tão sem sentido e não precisa
E eu já pensando em Ezequiel e Maria Luiza
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