Tragédia não, crônica

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Mediante tantos questionamentos, gerados pelo momento social e época do ano, todos têm objetivos e querem algo. Inserido nesse contexto, você deve se perguntar: quais são minhas expectativas para mim?

Você quer emagrecer? Quer enriquecer? Precisa estudar mais? Já se esforçou e precisa de descanso? Terapia vai te fazer bem? Você está feliz, ou tem potência para?

Algumas respostas doerão. O peso precisa ser perdido, mas falta genética. O dinheiro é almejado, porém a crise cada vez mais aperta. O tempo de trabalho toma cada vez mais o de estudo. Não é porque se precisa que se terá- isso se encaixa para felicidade também. Não é porque a necessidade de ser feliz existe (talvez pela ditadura do bem-estar ou questões psicológicas) que ela será suprida.

Pelo momento social, fé em valores ou qualquer parâmetro existente, o mundo tem expectativas para você. Estudar, estudar, prova. Mais provas até vestibular. Se não passar, volte ao início, se der certo, volte ao início novamente. Provas e provas até concursos, entrevistas de emprego, sucesso profissional. Se tiver ou não, há de se achar amor- ah, desejo mesquinho de não estar sozinho. Procure o par perfeito- não, ele te encontrará. Enquanto isso, pegue e largue o que vier. Case, tenha filhos (de preferência 2, um menino e menina, para dá-lo a primeira playboy e ensiná-la bons modos). Aposente-se sem nenhuma conquista grandiosa por você, sem ser, quem sabe, um campeonato de futebol ganho entre ex-colegas de faculdade. Morra e tenha flores no enterro, mas um epitáfio genérico (o além condiz o aquém).

Pegue as suas expectativas consigo e subtraia as sociais: esse é o futuro mais miserável possível, e o único plausível com sua moral de rebanho não superada.

De mais vale, indo contra a escravidão da vontade geral- democracia de porcos -saia da ignorância maior num grito de individualidade falho, e vá até o topo do prédio onde mora (e faltam somente 20 prestações para quitá-lo) e tire as vestes- por um momento lembra-se de alguma notícia haver com 3 da tarde, mas ignora o pensamento.

Tenha o último lapso de unidade consigo enquanto cai e tire seus grilhões junto da vida.

-R.C.

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Décimo sexto dia

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Hoje, novamente
Comemoro num cemitério
Mesmo tendo sangue quente
Não o levo a sério
Pela segunda vez
Canto a cantiga
No amado português
Não uma menos amiga
Não quero que seja
Antiga tradição
Mas o destino me cheira
À dura traição
Destinado a viver fora.
Fora de mim,
Fora do agora
Fora do grupo, continuo assim
Sem pertencer
Só morte
Não consigo manter
Minha sorte
Lápide detalhista
Poético epitáfio
Se minha morte fosse mal-quista
Contra ela haveriam mil
Mas não, só eu
Num caixão moderno
De quem viaja ou morreu
Ocasião para terno.
Minha sorte não existe
Nem o destino
Nem Deus que hesite
Para socorrer este meino
Nasci na família errada,
No dia errado,
Na idade errada,
E comemoro errado
Celebro a série de falhas
Acidentais até aqui
De novo no sétimo dia
Anterior ao sétimo dia.

-R.C.

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Ansiedade amorphisica

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O futuro logo chega
Não espere sentado
Levante e o receba
Não adianta correr desesperado

Os olhos fecham mas o pensamento vai longe
Nas certezas que temos do amanhã, do hoje
Sono falso tira, um alívio para a consciência
Mas descanço nenhum há, o cansaço ocupa em sua ausência
Ansiedade e nervosismo imperam
A lástima do desespero veneram

Os músculos pesam na cama
Os ossos estralam a toda hora
Do escuro brota a suave chama
Que ilumina junto a aurora
Idéias não fluem
Vontades não há
Levanto desde já
Por aceitar o destino
Motivos os quais não excluem
Meu desespero por sono
Os ruídos de dentro despertam mais
Os de fora a mim, torturado pelo sons
A ninguém transmito meu mal estar, por modos
Sentado com a vela, foco nos seus diferentes tons
A mente vaga
Nada segura
Toda hora
Me esmaga
Trocando assunto
Me levando junto
Morto, já não consigo nem desfocar
Tudo é chamativo, até o travesseiro
É melhor deitar, voltar a tentar de corpo inteiro
Ou a insônia irá me enforcar

-R.C.

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Impotência do amar

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Como é difícil
Se afastar
Do que já foi meu tudo

Por que?
Porque é necessário
Posso sofrer
Mas ela não
Ela não merece
Saber o que é
Querer mas não poder

Ela merece ser livre
Mesmo sabendo de minha necessidade
Não quero atrapalhá-la
Seu caminho é tão belo
Não precisa de outro obstaculo

Mas meu amor por ela é tão grande
Não quero deixá-la
Meu amor por ela
Faz o infinito ficar pequeno
Faz o tempo ser desprezível
Faz o espaço ser algo insignificante

Tolos são aqueles
Que dizem
Quem ao se afastar
Nada sentirão
Errados eles estão
Pois não importa
Se amou
Abriu uma ferida
Que nenhuma cicatriz curará
Um espaço
Nunca será coberto
Uma falta
Que não será satisfeita

P.T.

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