Décimo sexto dia

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Hoje, novamente
Comemoro num cemitério
Mesmo tendo sangue quente
Não o levo a sério
Pela segunda vez
Canto a cantiga
No amado português
Não uma menos amiga
Não quero que seja
Antiga tradição
Mas o destino me cheira
À dura traição
Destinado a viver fora.
Fora de mim,
Fora do agora
Fora do grupo, continuo assim
Sem pertencer
Só morte
Não consigo manter
Minha sorte
Lápide detalhista
Poético epitáfio
Se minha morte fosse mal-quista
Contra ela haveriam mil
Mas não, só eu
Num caixão moderno
De quem viaja ou morreu
Ocasião para terno.
Minha sorte não existe
Nem o destino
Nem Deus que hesite
Para socorrer este meino
Nasci na família errada,
No dia errado,
Na idade errada,
E comemoro errado
Celebro a série de falhas
Acidentais até aqui
De novo no sétimo dia
Anterior ao sétimo dia.

-R.C.

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Amor tão assim

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O mundo gira
A semana passa
A cabeça pira
Acaba fumaça
Mas é certeira
A sua lembrança

Na música do rádio
Ou da minha mente
O filme da TV
Ou do meu PC

Vai vir durante o banho
Ou durante a depressão
Olhando o céu diurno
Ou no vazio da escuridão
Só vejo em tudo seu olhar castanho
E seu cabelo loiro, em turno

É engraçado como fica
Um apaixonado sem alguém
Você de longe me explica
E eu sentado sem ninguém
No chão frio, azulejo
Sei que não é só um desejo

Tua voz é a verdadeira música
Teus passos a maior das danças
Teu rosto a maior arte plástica
Com teu toque nunca me cansas

Não consigo amar alguém de outro jeito
Sei lá o porquê dessa neura
Mas só preciso disso mesmo: amar a ti direito

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Tic-Tac

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Tempo passa
E eu tento contar
Mas nunca conto
O que sinto
Sinto muito
Só assim consigo vê-lo passar
Sentir o tempo
Sinto que acaba tudo aos poucos
E que aos poucos tudo acaba
Novos tempos virão
Vou tentar contá-los da próxima vez
O único tempo que contarei
É quando o relógio não mostrar mais
Aí então só peço
O furto no qual contei tanto tempo
O último a escrever
E um em branco para tentar
Quem sabe após o relógio parar
Eu consiga entender o tempo de verdade
 

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