Despedida

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Vem cá, meu amor
Diz pra mim o que não devias
Por antes ser proibido
Agora já não mais
Conta pra mim teus segredos
De hoje e daquela época
Como você sentia aqueles abraços
Como tu sentias naquelas tardes frias e calorosas
Me explica tua cabeça
Naquela chuva que tomamos nós
Quase desnudos, com inocência
Uma alma prometida e outra talvez presa
Faz o que não devia
Mas o que eu preciso
Me beija agora,
Antes da minha partida
São os últimos momentos
A gente se entende depois
Tudo o que temos
É agora para saber
Por favor, me beija, me mata
Para eu saber se beijo
Ou morro
Ou vou sem beijar
E sem morrer
E sem você.

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Pra, por

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Pra quê?
Já havia acabado
Por que?
Pra me deixar nesse estado?
Pra quê?
Eu já morri tantas vezes
Por quê?
Dentro de mim tantos seres
E todos falando de um futuro obscuro
No coração e no pulso um muro
Pra quê?
Teu sangue já caiu
Por quê?
Meu sangue imita
Psiu!
MInha cabeça agita
Pra quê?
Já não tenho razão
Por quê?
Também não toca na minha mão!
Não levanta minha manga,
Não tira minha camisa!
Sem tocar as feridas
Azul de quem pisa
As feridas são suas!
As dores são suas!
A dúvida foi sua,
Mas colocou em mim.
Os cortes eram seus
Mas os fiz em mim
Com força de Zeus
Tirei tudo enfim
Pra quê?
Por quê?
Só você!
Não tem de quê!
A dúvida mata
Você me mata
Me embebeda
Me ceda
O mundo não me aceita
Digo não
Não pra tudo
Não pra mim.

-R.C.

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Amor e poema

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Na vida e nos amores, tudo vale
Sejam sorrisos ou dores, mas na pele
Pois se não tem romance
Vira poema
Se é só um lance
E não há dilema
Uma história bem contada
Pode ser comum indolor
Ou crônico sofrimento incolor
Sem cicatriz, dor ou nada
Só a expectativa de melhora
Ontem, amanhã ou agora
Volto a repetir…
Na vida e no amor, vale tudo
Se vier drama demais
Posso me usar de escudo
Ou entrar e viver na paz
Se não vira teatro
Vira poema
Se não poema
Espetáculo.

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Décimo sexto dia

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Hoje, novamente
Comemoro num cemitério
Mesmo tendo sangue quente
Não o levo a sério
Pela segunda vez
Canto a cantiga
No amado português
Não uma menos amiga
Não quero que seja
Antiga tradição
Mas o destino me cheira
À dura traição
Destinado a viver fora.
Fora de mim,
Fora do agora
Fora do grupo, continuo assim
Sem pertencer
Só morte
Não consigo manter
Minha sorte
Lápide detalhista
Poético epitáfio
Se minha morte fosse mal-quista
Contra ela haveriam mil
Mas não, só eu
Num caixão moderno
De quem viaja ou morreu
Ocasião para terno.
Minha sorte não existe
Nem o destino
Nem Deus que hesite
Para socorrer este meino
Nasci na família errada,
No dia errado,
Na idade errada,
E comemoro errado
Celebro a série de falhas
Acidentais até aqui
De novo no sétimo dia
Anterior ao sétimo dia.

-R.C.

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Adeus

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Me pergunto como faria
Se me pedissem um último poema
Será que falaria
Sobre ti ou outro problema
Talvez algo diferente
Para o assunto ser convergente
Me pergunto com quem
Falaria se me concedessem uma última conversa
Não sei se existe alguém
Tão específico para desenvolvê-la sem pressa
Você não seria nunca, sei que
Não saberia o que falar a ti
Onde estaria
Se tivesse um lugar pra morrer?
Terra tão idêntica, só muda cultura
Não acho que diferença faria
Já que fecharei os olhos a esquecer
Indo pro próximo mundo pela sepultura.
Me pergunto se amaria
Caso me dessem essa opção
Mas com certeza deixava fria
O calor doloroso que é meu coração
Que me queima sem pedir
E dói sem se despedir
Agora pergunte de novo
Se falaria de ti no meu último escrito
Pois aqui estou, num quarto sem grito
Cautelosamente lhe escrevendo, pisando em ovo por ovo
Enquanto a arma desmonto, remonto
Tu podes recusar, fingir que não é contigo
Mas a assinatura que deixo não é traçado
Mas sangue não muito antigo
Tirado num estalo sem final, dando fim ao perigo
De uma vida já sem ti, já sem libido.

-R.C.

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Transporte privado

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O trem de ouvido
Que sem ser chamado
Sem medo de ser inxirido
Se mete em tudo
Cem em cem usam de escudo
Deixam o externo mudo
Parece até absurdo;
Um monte de surdo
Voluntário pra largar o mundo
Não sei se surto
Parece tudo morto
Bando de quieto
Mas dentro tá inquieto
Não me meto:
Se sai porque tem medo
Não me intrometo
Só acho meio cedo
Pra humanidade largar o credo
No outro
Pra ficar ali alheio
Com tantos no meio
Tudo solto
Dentro de um trem
Com o trem de ouvido
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Sonho do espelho falho

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Refração interessante
Desvia atenção
Para o vidro do amante
O mal amado com má intenção
A velocidade diminui da luz
Da mente, e tudo seduz
Há sentido
Em olhar, da garrafa, o fundo
Existe todo um mundo embutido
Há algo bom sentido
Como houvesse o final de minha depressão
Como houvesse para problemas resolução
Como se nessa tal solução
De álcool e água não houvesse não
Um marco de coragem
Um traço de desespero
Uma vontade selvagem
E sempre espero
Da bebida, a estiagem
Pra decidir sincero
Sem final
Nem toda física do mundo explica
O grande sinal
Que é olhar naquele fundo, uma súplica
De desespero por respostas
Mesmo que as mesmas não venham as mostras.

-R.C

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Pessoas e seus sons

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Quando tudo que se precisa é de si
Qualquer lugar é bom
A companhia só pode acrescentar ou nem importar
E educação é tudo que se espera
Quando a paz está contigo
Não há fuzuê que te tire do sério
Barulho que se atinja sua consiência
Substância que o faça ter
A solidão é um presente as vezes
O zunido um silenciador
A multidão vira falsa companhia
E o silêncio nunca é matador.

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No jantar

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Boa noite princesa, como vai?
Vou muito bem, e você papai?
Também anjo. Já cheguei, mas logo mais tenho que sai
Mas por quê? Trabalhou o dia todo, isso a um mês ou dois…
Não é pra tanto meu anjo, mas é fase, melhora depois
Só tô com saudades. Senta comigo, vou comer um arroz
Acho melhor não, tenho que ir num lugar
Mas como assim papai, espera a mamãe chegar!
Não da filha, mamãe vai quer nem me olhar
É só não abrir o olho perto de você
Se fosse só isso… não quer me ouvir
Aí você se faz de mundinho
Uma casa cega e muda? E o que ia pensar o vizinho?
Ah, que a gente brinca toda hora. Posso também brincar?
(Ouve-se a campainha tocar altíssimo)
Filhota, tô indo então, te amo
Mas eu quero jantar com você! Fica comigo!
Eu já volto então meu anjo, só compro um cigarrinho e como contigo
Jura mesmo papai? Eu vou ficar esperando…
É isso que sua mãe tá fazendo
(Anos se passam e ela sentada à mesa
E a cada dia que passa ela perde a surpresa
Do pai não voltar pra comer a sobremesa.)

-R.C.

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Olhe em volta, Renato

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Olhe em volta, Renato
Você está sozinho
E por mais forte que você acredite
Os únicos fantasmas no presente
São os criados por ti no caminho
Que percorrestes, tão ingrato, tão chato
Olhe esses pôsteres
Todos rasgados ou riscados
Sujos de azul ou vermelho
Marcas posteriores
A ataques indelicados
Da sua psiquê um espelho
Olhe seu braço
Todo rasgado e riscado
Teu sangue não é azul ou vermelho
É verde ou preto pisado
Pois na vida ser pisado é teu hábito velho
Na sua história tem esse amaço
Olhe pro teu olho
Todo ramificado ou rabiscado
Das veias um forte vermelho
Falta de descanço
Ele nunca é dado
Até dormir é chão quente descalço
Olhe pro teu pulmão
Todo estragado e gasto
Tingido de câncer preto
Resultado da tua necessidade
De fugir pra tal ilusão
Mesmo tendo tão pequena idade
Olhe para tua vida
Toda caída e falida
Sem amigos ou qualquer um
Que se importe contigo mais
Ninguém que saia da paz
Pra na sua depressão dar zoom
Olhe a sua volta
Essas paredes mais são grades do que casa
Todas iguais por causar dor, me solta
Para fazer melhorar
Você já tem a asa
Só falta voar
Olhe para baixo
Tanta altura parece pouca
E se quer saber o que acho
Não seria idéia louca
Daqui de cima se jogar
Só pra ver o que vai dar
Se solte enfim
Para ver o momento final
Afinal, Renato
Você está sozinho até no fim
Não haverá sequer relato
Do seu fim atemporal.

-R.C.

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