O Pombo Urbano

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A Rotina é perigosa
Te enrosca sem ver
Funcionalmente engenhosa
Faz o que fazes sem ser
O que quem sabe gosta

A rotina tem seu perigo
Uma chuva ácida
Que ao buscar abrigo
Conta não se dá
Do conforto ao se banhar

A rotina ajuda
É tediosa, escravisa
Te empurra
Não quero dizer civiliza,
Mas em certo nível
Faz o dia-a-dia mais digerível.

A rotina não mata
Mas há vida na rotina?
Há vida automática
Que não pensa nem procrastina?

Vida mecânica…
Vida de máquina.

-R.C.

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Exageros

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Venta muito na sacada
E a fechei com vidros
Quando ficas em mim vidrada
Sinto que os olhos dão tiros
Por isso ando de cabeça baixa
Para não ter que fechar de verdade
Meu rosto da realidade
As plantas estavam grandes
E as tirei do sol
Cansado de escalar os Andes
Dei dois tiros de franol
Quando no tipo grito ao mundo
O que só a ti queria ter dito
Teu amor é muito, não consigo.

-R.C.

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Uma gota de grafite num iceberg de papel

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Me parece que o tempo, cada vez mais, mais tira certezas do que as confirma.

Eu, que sempre cultivei amizades ao invés de coleguismos- me rendendo uma vida por vezes solitária-, julgava estas primeiras dignas pela profundidade de conversas e idéias, como se colegas não fossem dar a mim aquilo que busco: inspiração e conforto.

Errei. Errei feio.

O escoamento dos minutos tem me mostrado que conexões rasas dão às vezes conversas frutíferas, e também vejo que amizades profundas podem dar muita asneira no papo. Nada contra isso, claro. Mas me surpreende ver rios, possíveis de acabar no oceano (ou um mar, sem problemas) desaguem em lagos ou talvez sequem, enquanto uma poça pode terminar numa geleira.

É possível sentar-se na mesa de um bar e, por um comentário descuidado, não pensado e certeiro, começar uma troca de idéias muito (mesmo) grande e profunda. É possível nunca mais falar com a pessoa após, mas as palavras ficam.

Na falta de rios, poças e lagos na madrugada, me reporto ao papel, chuviscando estes humildes pensamentos. Uma gota de grafite num iceberg de papel.

-R.C.

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Alu(n)a

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Ela me era Lua
Eu, astrônoma
Queria ser aluna
Dessa luz que só soma
D’uma beleza estonteante
Como fosse Soma
A noite eu sumia
Dedicando a Ela inteiramente
Eu, que não tinha asas
Entraria até na Nasa
Pra vê-la de perto
Fui longe
Fiz força como monge
A tive em meu teto
E então
Sem teto de vidro
Nem pedra no coração
Tive a Lua comigo.

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Meta

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Falo do amor
Amor por compor
Sem dor de me expôr
Meu mundo impor
Pra quem ler supor
Que entende a dor
Que sente meu amor
Como passassem um sensor
Para ver meu suor
Se não verem, depor
E no clímax de tanto calor
Não vêem o real teor
Dos textos. O maior temor
É não expressar tal amor:
O texto rimador.

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Um novo Deus

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A natureza cúmplice
É uma de minhas poucas crenças
Raras, excepcionais, não-vice
Uma de minhas contradições e diferenças
Um mundo todo de observador
À olhar-me sentindo a dor
Mesmo não vendo um Deus
Messias, profeta e tal
Os ventos se padecem com erros meus
Se comportando de modo anormal
É simples observação
Não qualquer sobrenatural
Só simples demonstração
Do que acontece no bem e no mal
O sol abre e clareia
Ao som das minhas melhores histórias
A nuvem estraga, ferrenha
Quando assiste as minhas piores memórias
Só um efeito tão bonito
Complexo,
O qual assitir não êxito
Deixa-me tão perplexo
A cumplicidade natural
Vive no campo, centro, área rural

-R.C.

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Sonho do espelho falho

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Refração interessante
Desvia atenção
Para o vidro do amante
O mal amado com má intenção
A velocidade diminui da luz
Da mente, e tudo seduz
Há sentido
Em olhar, da garrafa, o fundo
Existe todo um mundo embutido
Há algo bom sentido
Como houvesse o final de minha depressão
Como houvesse para problemas resolução
Como se nessa tal solução
De álcool e água não houvesse não
Um marco de coragem
Um traço de desespero
Uma vontade selvagem
E sempre espero
Da bebida, a estiagem
Pra decidir sincero
Sem final
Nem toda física do mundo explica
O grande sinal
Que é olhar naquele fundo, uma súplica
De desespero por respostas
Mesmo que as mesmas não venham as mostras.

-R.C

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Meu sol

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Foi num campo de flores
Que percebi que ainda te amo
Não eram girassóis, tinham outras cores
O insight que tive foi mais insano
Na falta dessas flores vi como a vida mudara
Para uma eterna noite sem lua, por falta de ti
Meu sol
O astro mais brilhoso pro meu mundo
Há outros maiores? Talvez, mas aquela luz não me alcançara
Somente a sua, meu sol
Sou como sua flor predileta
Caído na sua falta
Sempre te olhando indiscretamente
Sem tentar, automaticamente
Devia ter pego pra ti flores de novo
Mas elas seriam ofuscadas pelo brilho do meu sol.

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