Desabafo de agora
Não penso em você
Mas se penso,
É com melancolia, não saudade
De quem era companhia sem maldade
E fica então essa vontade
De expressar o que vem do coração
Somente ao chegar a ocasião
Mas como disse,
Não penso em você.
-R.C.
Não penso em você
Mas se penso,
É com melancolia, não saudade
De quem era companhia sem maldade
E fica então essa vontade
De expressar o que vem do coração
Somente ao chegar a ocasião
Mas como disse,
Não penso em você.
-R.C.
Os nossos filhos já tinham nome
Nenhum sonho passava fome
Como um ciclo não se consome
O sono agora some
Não creio que foi tão momentâneo
O futuro era certeiro e espontâneo
O presente tão costumeiro tão rotineiro
E sem mais nem nada, foi-se ligeiro
Foi o que eu fiz? Mas o que fiz?
Foi falta de fazer? Eu tinha como saber?
Há jeito de consertar? Você sabe que eu quis
Eu queria um destino, você tão indecisa
Tão sem sentido e não precisa
E eu já pensando em Ezequiel e Maria Luiza
Me parece que o tempo, cada vez mais, mais tira certezas do que as confirma.
Eu, que sempre cultivei amizades ao invés de coleguismos- me rendendo uma vida por vezes solitária-, julgava estas primeiras dignas pela profundidade de conversas e idéias, como se colegas não fossem dar a mim aquilo que busco: inspiração e conforto.
Errei. Errei feio.
O escoamento dos minutos tem me mostrado que conexões rasas dão às vezes conversas frutíferas, e também vejo que amizades profundas podem dar muita asneira no papo. Nada contra isso, claro. Mas me surpreende ver rios, possíveis de acabar no oceano (ou um mar, sem problemas) desaguem em lagos ou talvez sequem, enquanto uma poça pode terminar numa geleira.
É possível sentar-se na mesa de um bar e, por um comentário descuidado, não pensado e certeiro, começar uma troca de idéias muito (mesmo) grande e profunda. É possível nunca mais falar com a pessoa após, mas as palavras ficam.
Na falta de rios, poças e lagos na madrugada, me reporto ao papel, chuviscando estes humildes pensamentos. Uma gota de grafite num iceberg de papel.
-R.C.
E dormiu com lápis na mão
O menino que queria ser poeta
Mas em seus cadernos,
Folhas, comunicados escolares,
Outros livros ou na própria mesa
Desejava passar a escrever poesia
Ao invés da lírica realidade vivida.
Dormiu com lápis na mão
Na esperança de nos sonhos ser enfim um poeta,
E não mais só menino.
Foi num campo de flores
Que percebi que ainda te amo
Não eram girassóis, tinham outras cores
O insight que tive foi mais insano
Na falta dessas flores vi como a vida mudara
Para uma eterna noite sem lua, por falta de ti
Meu sol
O astro mais brilhoso pro meu mundo
Há outros maiores? Talvez, mas aquela luz não me alcançara
Somente a sua, meu sol
Sou como sua flor predileta
Caído na sua falta
Sempre te olhando indiscretamente
Sem tentar, automaticamente
Devia ter pego pra ti flores de novo
Mas elas seriam ofuscadas pelo brilho do meu sol.
O mundo é grande demais
Pra amar só uma pessoa
Até disse pra um irmão como tava apaixonado por aquela mina
Ele olhou pra mim e declarou
“Você se apaixona por todas, não é?”
E ele tá certo mesmo,
Por isso amo todo mundo
Sem distinção e nem nada
Tenho sentimento demais dentro de mim
Para colocá-lo em uma só história
Vou distribuir este em várias
Até achar uma que caiba todo o resto
O mundo é grande demais
Pra viver em um só lugar
Amo cidades natais, de verdade
Mas eu vou renascer em cada uma em que pisar
Crescer naquelas nas quais dirigir
E morrer ao sair destas
E a cidade natal é tal como Jerusalém
Onde minha ressureição é continua e certeira
Até ir morar em outros planos que não o terrestre
O mundo é grande demais
Para pensar tanto antes de fazer
Ok se é uma decisão tão grande
E mudar sua vida pode
Mas pegar o ônibus errado
Errar na bebida e ter um porre mal amado
Amar a garota bem estranha
Estranhar o lugar onde foi parar
Parar no espelho e pensar como está sem noção de nada
Nadar no mar com um frio ferrado
Ferrar com a vida de um babaca desprezado
Prezar por quem talvez não te queira tão bem
Bem-querer a todos sem pensar quem é
Ser aquela pessoa sem pensar em quem ser
O mundo é grande demais
Pra ter a cabeça tão pequena
Ele vai rodar mil vezes
Até você deixar de ser tão quadrado
Ele é aberto e livre pra fazer um mundo de coisas
Para que pensar dentro da caixa?
O mundo é um livro em aberto
Onde escrevemos cada um um capítulo
E por mais que essa Bíblia tenha mais de 4000 anos
Quero mais que só algumas páginas
Várias histórias e reviravoltas
Um verdadeiro mito, não relato
Porque
O mundo é grande demais
Para viver em crônica
Ou ter só alguns contos
Quando pode-se ter romances
Performar vários dramas
Se deliciar em diversos poemas
E fazer de si mesmo um texto incompleto
Com começo, meio e sem final definido
O mundo é grande demais
Porque a vida é grande demais
E durante ela, ao invés de se fechar no seu pequeno mundinho
Pode-se abrir para o de todo mundo
E ter tantos universos sem saber qual escolher
Pois as opções são grandes demais.
Peguei aquele álbum velho
Sentei em minha cama
Numa daquelas noites de se olhar ao espelho
Se perguntando quem agora me ama
Por que a vida assim está
Mas sem chorar, com momentos de reflexão
Aproveitando o momento com a melhor intensão
Porque, talvez, a beleza da vida
Esteja nesses bons momentos
Nos quais olhamos fotos
Lembrando da felicidade oferecida
Não em um jatinho ou cobertura
Amar e desamar
Mas sim no olhar para trás
Momentos com pessoas que não vem mais
E sorrir sem nosso passado relutar
Quem sabe a questão
Seja ver que o mundo sempre está eterno
Ou caindo aos pedaços
Devemos notar, então
Que o ser humano é subalterno
De um ciclo de choros e abraços
Tapas e amassos
E como é bonito ver como são
Os momentos de olhar a fotografia
Lembrando do amor infinito
Daquele momento
E em poucas palavras negocia
O que deveria ter sido e o que não
Na verdade, todos eram
E nenhum, pois
Se aconteceram, deviam
Se acabaram, já não mais
Se olho para a foto com saudades
É de um tempo longínquo e já impossível
Dando risadas de algo inadmissível
E na época fui incapaz
De rir como gargalhei agora
Vendo como tudo o passado explora
Peguei aquele velho álbum
Sentei na cama minha
Naqueles dias nos quais Dona Zinha
Diria que o povo lá fora ficaria bebum
Porque é difícil ver a vida com sua beleza
Mais fácil vê-la com asco e aspereza
À olhar pra tantas fotos de momentos finais
Com felicidade por estes e pelos inícios
Pelas metades e tudo mais