A gente se mantém ocupado
Até se encontrar apaixonado
Sem fazer esforço nem nada
Sendo fiel à flecha, e leva espada
De surpresa, e de repente
Sair da dor domina a mente
Analgésico, opióide, psicodélico e tudo mais
O que tomar necessariamente? Tanto faz
Pego caixas e leio as bulas
Todas dizem, todas burras
Todas disputam atenção dum moribundo
Cujo decorrer soa imundo
Pego livros e leio versos
Por que será que leio versos?
O relógio bate as seis, bate as dez
Me vem à memória os seus pés
Tarado ou saudosista, pergunta o leitor atento
Antecipo ser os dois, mas depende o momento
Ah esses versos, esses pés
Me despertam poesia, ou seria o invés
Esses pés, estes versos
Não os entendo, eu confesso
Seria poesia criando atração
E a leitura, de antemão
Despertou o que estava lá?
Tanto faz, estás longe; que sorte má
E sigo fazendo esse ciclo infinito
Pensando em qualquer coisa, mas é só surgir atrito
Que surge você logo ao fundo
Afinal, não é assim que vive o mundo?
A gente se mantém ocupado,
Até se encontrar apaixonado.