Travesseiro

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Os nossos filhos já tinham nome
Nenhum sonho passava fome
Como um ciclo não se consome
O sono agora some
Não creio que foi tão momentâneo
O futuro era certeiro e espontâneo
O presente tão costumeiro tão rotineiro
E sem mais nem nada, foi-se ligeiro
Foi o que eu fiz? Mas o que fiz?
Foi falta de fazer? Eu tinha como saber?
Há jeito de consertar? Você sabe que eu quis
Eu queria um destino, você tão indecisa
Tão sem sentido e não precisa
E eu já pensando em Ezequiel e Maria Luiza
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Exigências

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Amor pagão
Na fogueira arde
Fui contra o cristão
E deixei de ser covarde
Fogo forte, dor eminente
Logo a sorte foi, de repente
Luto pra poder,
Meu último artifício
Pr’um dia te ver
Farei sacrifício.

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Caixas e caixas…

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Nesta caixa de cimento
Onde guardamos nossa rotina
E sacramos nossa retina
Vejo caixas e lamento
Sem caixas,
Aos poucos o que se encaixava
Vai embora o que durava
E encaixado coisas menos baixas.
É um quebra-cabeça
De vida toda
Desmontado em remessa
Todavia.
Protesto é inútil
Detesto ser fútil
O material apodrece
Mental só enriquece
Aos poucos encaixo minha vida
Como fosse material
Como fosse normal
Se desfazer da tida.
Dar adeus ou até logo
Pros meus, não me empolgo
Só Deus vai saber
Quanta falta vão fazer.
Mais do que da Sicília
Aquelas unidas famílias
A minha se mantém junto
Encaixando-se pr’outro mundo.

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Dos momentos e momentâneos

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Da minha vida sou eterno passageiro
Sem ter pontos finais
Um vai-vem nas pessoas,
Viajando por entre almas.
Nunca chegando cedo
Mas sim tarde demais
Outras vem cedo
As demais, muito tarde
Vou embora sempre.
Não tenho casa,
Não tenho a mim,
Só tenho a esperança
De que vou ter um fim.
(Mas nem minha morte viverei-
Ela não me pertence.)

-R.C.

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O Futuro

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São fios grisalhos ao espelho?
Na barba à fazer e cabelo feito?
Não, só maldito efeito
Da vontade de ser velho
Ah, como temo a juventude
De mim tudo toma
Mesmo em sua plenitude
Vejo esse sintoma
Fugazes relações
Frágeis relacionamentos
Escoando por ser jovem,
Ainda mais vem
Com ou sem ações,
Substituição terá seu momento
Espelho, espelho meu
Os grãos que lhe fizeram,
São os que me faltaram
Ou é engano meu?
Se não faltaram, faltarão
Se não caíram, cairão
Se sumiram, explicação
Demando, compreenção
A caminhada fará mal
Estarei pronto
Mesmo que meu ponto
Seja o final.

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Caos, só caos

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Quer-se da vida
Fazer romance,
Mas o passado
É o que acontece
Nada mais que acontecimento
Atrás de esquecimento.
Vive-se no hábito
Situação cômica
Querem ligar todo fato
Mas é livro de crônica.

-R.C.

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Provinciano

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Hoje puseste a escova junto à minha
Ontem fomos procurar casa.
Amanhã não sei como será,
Sei que você aí estará
Como é bom aos poucos
Amar como no tempo de loucos.

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Pseudário do crescimento

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Como posso ser menino
Se até ontem havia barba em meu rosto?
Não que tenha sido repentino
Sem ela é mais difícil dar desgosto
O rosto fica pelado
A pele, os erros, deixa de lado.
O garoto joga,
Ele brinca com a vida
Tenta até ter gana
Mas a verdade é indevida
Esforça para o gol
Volta e toma dois
Não culpa dele que depois
Seu time não mais jogou
O grupo de trabalho
Saiu uma merda
Ficou colcha de retalhos
O garoto joga, sem medo da morte
Tantos amores sem nenhuma herda
Até que mesmo prevenindo, pediu que aborte.
Como posso não ser menino
Se não aprendi a lidar com tudo?
A idade bateu um sino
Com o qual me tiraram o escudo
Agora só me colocaram pra viver
Sem a mínima idéia do que fazer.

-R.C.

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Tragédia não, crônica

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Mediante tantos questionamentos, gerados pelo momento social e época do ano, todos têm objetivos e querem algo. Inserido nesse contexto, você deve se perguntar: quais são minhas expectativas para mim?

Você quer emagrecer? Quer enriquecer? Precisa estudar mais? Já se esforçou e precisa de descanso? Terapia vai te fazer bem? Você está feliz, ou tem potência para?

Algumas respostas doerão. O peso precisa ser perdido, mas falta genética. O dinheiro é almejado, porém a crise cada vez mais aperta. O tempo de trabalho toma cada vez mais o de estudo. Não é porque se precisa que se terá- isso se encaixa para felicidade também. Não é porque a necessidade de ser feliz existe (talvez pela ditadura do bem-estar ou questões psicológicas) que ela será suprida.

Pelo momento social, fé em valores ou qualquer parâmetro existente, o mundo tem expectativas para você. Estudar, estudar, prova. Mais provas até vestibular. Se não passar, volte ao início, se der certo, volte ao início novamente. Provas e provas até concursos, entrevistas de emprego, sucesso profissional. Se tiver ou não, há de se achar amor- ah, desejo mesquinho de não estar sozinho. Procure o par perfeito- não, ele te encontrará. Enquanto isso, pegue e largue o que vier. Case, tenha filhos (de preferência 2, um menino e menina, para dá-lo a primeira playboy e ensiná-la bons modos). Aposente-se sem nenhuma conquista grandiosa por você, sem ser, quem sabe, um campeonato de futebol ganho entre ex-colegas de faculdade. Morra e tenha flores no enterro, mas um epitáfio genérico (o além condiz o aquém).

Pegue as suas expectativas consigo e subtraia as sociais: esse é o futuro mais miserável possível, e o único plausível com sua moral de rebanho não superada.

De mais vale, indo contra a escravidão da vontade geral- democracia de porcos -saia da ignorância maior num grito de individualidade falho, e vá até o topo do prédio onde mora (e faltam somente 20 prestações para quitá-lo) e tire as vestes- por um momento lembra-se de alguma notícia haver com 3 da tarde, mas ignora o pensamento.

Tenha o último lapso de unidade consigo enquanto cai e tire seus grilhões junto da vida.

-R.C.

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Da cidade sobre as serras

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Na cidade pequena
O caminho dos pais é o destino dos filhos
A prole não contracena
Só assume paulatinamente os trilhos
Já na cidade grande
O caminho dos pais muda o destino dos próximos
Porém a opção se expande
A definição vem com os anos
É meu cemitério de vidas
De mim tiradas
Melhor dizendo, arrancadas
Como posso enterrar mais uma vez
Uma que continua sem mim?
Não há como evitar o luto
Pois luto para convencer-me
A deixar ir o morto
E planejar o novo com alegria
Mas não deixo de ver uma sangria
De relações humanas não-frias
Na verdade muito realistas e calorosas
Não são muitas listas,
Mas ali são amorosas
Pois bem,
Mais amores vou jogar ao além
Desta vez de amigo, eros, não importa quem.
Minhas escolhas agora importam
Mas meu psicológico cheio de emoções
Não se suportam.
Não sou de cidade pequena
Pouco importa meus pais no meu futuro
Sou protagonista desta cena
Da humanidade grito, não sussuro
Nasci na cidade grande
E o jeito dos meus pais, sigo por confiança
O medo do que vem muito arde
Mas é liberdade sem fiança.

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