Décimo sexto dia

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Hoje, novamente
Comemoro num cemitério
Mesmo tendo sangue quente
Não o levo a sério
Pela segunda vez
Canto a cantiga
No amado português
Não uma menos amiga
Não quero que seja
Antiga tradição
Mas o destino me cheira
À dura traição
Destinado a viver fora.
Fora de mim,
Fora do agora
Fora do grupo, continuo assim
Sem pertencer
Só morte
Não consigo manter
Minha sorte
Lápide detalhista
Poético epitáfio
Se minha morte fosse mal-quista
Contra ela haveriam mil
Mas não, só eu
Num caixão moderno
De quem viaja ou morreu
Ocasião para terno.
Minha sorte não existe
Nem o destino
Nem Deus que hesite
Para socorrer este meino
Nasci na família errada,
No dia errado,
Na idade errada,
E comemoro errado
Celebro a série de falhas
Acidentais até aqui
De novo no sétimo dia
Anterior ao sétimo dia.

-R.C.

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Recado pro canto do caderno

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Alguns gestos trazem lembranças
Cheiros incomodam um pouco
Mas são poucos em meio a tantas mudanças
Se passasse o dia pensando, seria um louco
Por aí cada esquina trazia arrependimento
Aqui o espaço ajuda o esquecimento

Às vezes
Olho para fotos
(Não suas, tê-las é contra minhas teses)
Vejo a época de compromisso e votos
O problema e que o voto maior se foi
Mas passado salva o bom
Apaga o ruim, dando o melhor tom
E não sei quando pararei
De ter essas visões
Lampiscos do que um dia amei
Mesmo já não tendo emoções
Te conto isso para explicar
Mesmo sem compromisso nenhum ou dívida
E ninguém ou você ter a quem culpar
Não se espante se eu nunca voltar
Nunca cruzar comigo nos cantos
Pois se nunca parar
É o necessário pra tirar-te dos sonhos
Farei com prazer e encantos
Irei de cá pra lá, pelos lugares ordinários e mais estranhos

-R.C.

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