Uma tarde de chuva em minha antiga casa

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Como uma bandeira de um país que já não existe mais
Cujo hino já não se entoa
E o juramento há muito não é feito.
Mais que esquecido, abandonado
Jogado ao vento sem qualquer significado
Sem origem, sem final
Não eterno, não finito
Quase vazio, mas cheio de algo xoxo.
Se houvesse memória, seria pouca
Se fosse pouco, de nada valeria.

Não há motivo intrínseco para estar no mundo
Mas algo nisso incomoda muito…
Só vale se há grandes feitos?
se há motivações maiores?
Cansaço pela busca desse sentido
E não sei quando isto passará.

Quero salvar vidas mas minha alma se perde mais e mais.

-R.C.

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Dialética

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Não tenho sentido na vida que vivo
Não vejo futuro nesta situação
Mas não vivo nada tão incisivo
Negativo de antemão

Não é que sou triste
Só não estou feliz
Acreditei que quem insiste
Vive sempre o que quis
Espero que deposite
No meu quadro pouco giz
Pois exclamação se existe
Se anima com o que fiz.

Não tenho sentido na vida que vivo
Não vejo futuro nesta situação
Mas não vivo nada tão incisivo
Negativo de antemão.

-R.C.

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Minha água

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Nunca foi bom chorar,
Mas de uns tempos pra cá
Acho que as lágrimas ficaram ácidas.
É como sentir fisicamente a podridão da minha alma.

-R.C.

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Dos momentos e momentâneos

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Da minha vida sou eterno passageiro
Sem ter pontos finais
Um vai-vem nas pessoas,
Viajando por entre almas.
Nunca chegando cedo
Mas sim tarde demais
Outras vem cedo
As demais, muito tarde
Vou embora sempre.
Não tenho casa,
Não tenho a mim,
Só tenho a esperança
De que vou ter um fim.
(Mas nem minha morte viverei-
Ela não me pertence.)

-R.C.

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Ficou louco

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Tanto tempo em silêncio
Estou com medo da minha voz
Após anos a sós
Tenho medo de mim.
Hoje acordei assim
Apavorado para sair de casa
Sem ter desenvolvido asas
Como passarinho, me arremessam
Com ou sem espinhos não me interessam
O sol faz comigo
O que com as pedras faz
Sou nem inanimado ou antigo
Mas meu corpo aqui jaz
Sem mente,
Morro rápido
Somente
Corro, sólido
De mim. De tudo.
Sempre tem algo lá
Onde estou, o medo está
Pavor tenho, isso não mudará
Meu desempenho cai afinal
Me rendo à vida que vivi tão mal.

-R.C.

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Mundo bom

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Gritar felicidade
É um bom jeito
De livrar-se do peito
Peso tirado com facilidade
Aquele não demonstrado
Só escondido
Em meio aos sorrisos expressos
Uma mágoa ristretta
À atenção restrita
Seguindo meus passos
Entenderiam tão fácil,
Mas como se não sou dócil?
Olheiras como rojões
Não uso maquiagem
Desleixo como mensagem
Nada dá questões
Talvez porque o que importa
É que sorrindo o mundo me suporta
E ninguém suporta chorões.

-R.C.

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Exageros

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Venta muito na sacada
E a fechei com vidros
Quando ficas em mim vidrada
Sinto que os olhos dão tiros
Por isso ando de cabeça baixa
Para não ter que fechar de verdade
Meu rosto da realidade
As plantas estavam grandes
E as tirei do sol
Cansado de escalar os Andes
Dei dois tiros de franol
Quando no tipo grito ao mundo
O que só a ti queria ter dito
Teu amor é muito, não consigo.

-R.C.

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Permissão pra ser

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Eu não pedi pra nascer
Na verdade, não pedi nem pra ser
Esse negócio estranho, pessoa complicada
Meu olho é castanho e a menina emaranhada
De olhar pra rua e ver acidente
De fitá-la nua e ter outra em mente
De querê-la sua sem saber o que sente.
Sou meio mesquinho, egoísta
Queria eu ser budista
É demais pedir uma aura branca?
É demais pedir pr’esse espírito que incapacita
Essa coisa que se mata mas ressuscita
Desaparecer?
Não acho que é pedir demais
Mas nem me surpreendo mais
Eu nem pedi pra nascer.

-R.C.

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Uma gota de grafite num iceberg de papel

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Me parece que o tempo, cada vez mais, mais tira certezas do que as confirma.

Eu, que sempre cultivei amizades ao invés de coleguismos- me rendendo uma vida por vezes solitária-, julgava estas primeiras dignas pela profundidade de conversas e idéias, como se colegas não fossem dar a mim aquilo que busco: inspiração e conforto.

Errei. Errei feio.

O escoamento dos minutos tem me mostrado que conexões rasas dão às vezes conversas frutíferas, e também vejo que amizades profundas podem dar muita asneira no papo. Nada contra isso, claro. Mas me surpreende ver rios, possíveis de acabar no oceano (ou um mar, sem problemas) desaguem em lagos ou talvez sequem, enquanto uma poça pode terminar numa geleira.

É possível sentar-se na mesa de um bar e, por um comentário descuidado, não pensado e certeiro, começar uma troca de idéias muito (mesmo) grande e profunda. É possível nunca mais falar com a pessoa após, mas as palavras ficam.

Na falta de rios, poças e lagos na madrugada, me reporto ao papel, chuviscando estes humildes pensamentos. Uma gota de grafite num iceberg de papel.

-R.C.

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