A ousadia é uma amiga íntima da felicidade

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Nunca é tarde pra tomar decisões.

Quando era mais novo, pensava mais imediatamente que hoje, ainda novo. Porém, agora, talvez num relapso de lucidez que vai me deixar tão rápido quanto demorou pra chegar, vejo que não há tempo melhor pra voltar atrás do que agora.

Não sou arrogante de afirmar que não há arrependimento que requer aceitação plena e um tanto de angústia, mas tenho certeza que estas são minoria, pequenas atitudes dentro dum oceano de possibilidades. Num dia só já são tantas… do despertar ao piscar de olhos anterior ao sono somos cercados inteiramente por escolhas, e amiúde tomamos as coisas como dada.

Por exemplo, um homem pontual sai de casa, e ao chegar no ponto de ônibus nota que esqueceu o guarda-chuva; o dia está nublado, as nuvens cinza-escuras e o cheiro de terra molhada conta uma história por si só. Neste momento, ele só pega o ônibus e volta molhado para casa ao final do dia. Ele aceita, logo ao início do dia, que ser pontual é natureza dada, e portanto o guarda-chuva esquecido é incompatível e não merece consideração. Ele não vê que tem a opção de chegar 10 minutos atrasado no trabalho para ao final do dia não se molhar. Decidiu sair de casa pontualmente, decidiu entrar no ônibus, e ao final do dia se arrependeu de não pegar o guarda-chuva.

O leitor atento dirá que ao final do dia era tarde para pegar o guarda-chuva, e para isso respondo: no dia seguinte, quando estiver no ponto novamente, ele terá a mesma escolha. E novamente irá escolher a pontualidade, para se frustrar ao final do dia. E então não será tarde, mas sim o momento certo.

Somos livres para escolher nossos venenos, seja ele a chuva no ombro ou a bronca do chefe, a dor da rejeição ou a angústia do segredo, a insegurança do novo ou a monotonia do velho, o tesão da incerteza ou a calmaria do constante. 

A ousadia é uma amiga íntima da felicidade, e o ousado quem sabe está dois passos mais longe na maratona da alegria.

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Romance, orgulho e luta racial – 'Próspera' é música, de todos os tipos, da melhor qualidade

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A minha experiência com Tássia Reis é limitada.

Infelizmente, quando a ouvi pela primeira vez, numa cypher do RapBox, Sinfonia da Revolução, eu não curti muito; pra ser sincero, naquela cypher eu só gostei de metade da música. Eu admito, desde esse momento, que a voz era boa, mas por algum motivo o verso, a quebra de ritmo do beat não me agradaram. Mas tudo bem. Não foi a última vez que trombei com ela em playlists.

Imagem de divulgação do single ‘Contramão’, com Tássia Reis, Pìtty e Emmily Barreto.

A segunda vez foi seis meses depois, no single “Contramão“, da Pitty.. Pitty é uma artista que eu tenho como querida, mesmo não sendo minha favorita. Dessa vez, Tássia roubou totalmente a minha atenção. Apesar de um tipo similar de participação, no sentido de mudança de ritmo e tudo mais, dessa vez eu não conseguia tirar aquilo da cabeça; porém ainda sim a primeira impressão de seis meses antes não havia desaparecido.

Algum tempo depois, provavelmente em alguma playlist de novidades ou no DailyMix do Spotify, ouvi duas músicas de tons completamente opostos da mesma: Shonda e Se Avexe Não. Aí não teve como negar que o primeiro verso ouvido era uma peculiaridade- ou realmente algo fora da curva de qualidae dela ou alguma frescura minha que eu não consegui identificar sozinho, mas, de qualquer maneira, o fato é que a Tássia é extremamente talentosa e tem muito pra falar, de maneiras diversas e maravilhosas.

Thumbnaildo videoclipe de Se Avexe Não

Se avexe não
Não chore
Nem se demore nesta dor
Porque acalanto do seu coração
Está vindo
E é tão lindo quanto esta canção

Se Avexe Não

E pouco mais que quatro meses depois, ela lançou um disco novo, que ouvi sem compromisso algum no trabalho a primeira vez, e estou ouvindo uma ou duas vezes por dia desde então: Próspera.

Tô na contramão do sistema
Eu tenho medo da polícia
Mais de você, sinto apenas pena

Imensa Luz

Esse álbum é simplesmente incrível. Tássia usa e abusa da sua voz poderosa, mas não tem medo de colocar um auto-tune para alcançar efeitos diferenciados. em uma faixa solta punchlines cirúrgicas e na outra fala de amor com uma leveza tocante.

Como eu falei no começo, minha experiência com a Tássia é limitada, e talvez por isso eu ainda me impressiono com a flexibilidade artística- mas eu acho difícil. Não me lembro a última vez que vi um álbum que mesclou com tanta maestria um R&B, trap, MPB, jazz… enfim, deu pra entender a extensão dessa habilidade.

Tudo é uma incerteza
Mas senta aqui na mesa
Me paga uma breja
E pensa eu mais você
Por que não?

Eu + Vc

Eu ainda não achei uma faixa favorita. O motivo é que a cada vez que ouço esse disco algo salta que não devia passar despercebido. A música de Tássia conversa com muito a todo momento, e Próspera é sem dúvida um dos melhores álbuns de música brasileira do ano e uma experiência indispensável.

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Uma pena

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Se não bater as asas, o pássaro cai.
Se bater fraco, ele se mantém.
Se bater forte, ele vai subir.
O pássaro, em momento nenhum, sai do nível que quer. Isso faz parte da liberdade do pássaro; ele sempre sabe quão alto ele quer estar, qual caminho ele deve seguir. Quase nunca você vai ver pássaros se batendo no céu, afinal, as nuvens não ocupam espaço, logo, não há porque brigar por este.
Mesmo assim, pássaros não voam todos no mesmo nível. Uns voam mais baixo, uns mais alto- outros, nem voam- e são felizes assim.
Eu queria a liberdade dos pássaros.

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Luminosidade em Minas – As Crônicas de Um Fotógrafo

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Num mundo de viver-se procurando sombras em cavernas
Contemplo agora minha luz.
Se todos vai procurar saber e serão enganados, minha mãe sempre disse
Não sou todo mundo, não é tudo que seduz
Talvez não sejam grutas, sombras; mas óculos escuros em tabernas
Minha ascensão vem em forma de mulher que escolhe se abre as pernas
Não em bar, nunca foi meu estilo, mas numa biblioteca
De conhecimento da vida, externa
Um Vale do conhecimento tão sagrado quanto Meca.
Minha luz,
Que deu luz à escuridão que o amor me trama
Às inseguranças muitas que ficam claras a chama do sentimento de quem ama
Quem sabe vivemos num mundo no qual vive-se em busca de puro sexo
Mesmo ninguém entendendo qual o nexo
Talvez impulso natural de vida;
Talvez só desejo de diversão
Mas saem em busca de sexo puro
Mesmo que tem demais e de tanto ver são, do anterior, versão
Ainda entusiasmada com coisas estranhas…
Buscam pelo puro, mas a sós veem de incestos a estupros,
De simplicidade de contexto a coisas de revirar entranhas.

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Foto por Nicole Ilário

Para isso não precisei da luz,
A esse tipo de loucura não me expus.
Ah! não sei se somos presos à caverna de Platão, acorrentados e privados de visão
Definhados a ver sombras por toda vida e agradecer pela falta de opção
Mas olho para ela e vejo mais que esperança, mas salvação
Não pra pureza, mas pela certeza, pela convicção
Que mesmo sendo sombra, claramente tem razão.

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Ciências

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Conhecimento
É bom sempre, visível
Traz tormento
Paz impossível
Mas é alimento
E imprescindível
Já passaram milhares de anos
A discussão permanece igual
Platão apontava a outros planos
Seu discípulo ao visual
Misticismo
Ou realismo?
Entre ambos o enorme abismo.
Filosofia humana
Ou metafísica divina?
Seguir aqueles da retórica
Ou a natureza mitológica?

-R.C.

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Desespero

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Não tenho tempo
Nunca o tive, nunca o terei
Pressa inútil, te direi
Pois deste caminho não sou rei
Não funciona comigo
Do mesmo jeito que com os outros
A escola é o menor mal
O seu conjunto aterroriza
Presente inútil
Preocupações bobas
Futilidades inteiras
Quero a realidade
Não aguento mais cópias
Quero sair dessa imitação.

-R.C.

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Tragédia não, crônica

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Mediante tantos questionamentos, gerados pelo momento social e época do ano, todos têm objetivos e querem algo. Inserido nesse contexto, você deve se perguntar: quais são minhas expectativas para mim?

Você quer emagrecer? Quer enriquecer? Precisa estudar mais? Já se esforçou e precisa de descanso? Terapia vai te fazer bem? Você está feliz, ou tem potência para?

Algumas respostas doerão. O peso precisa ser perdido, mas falta genética. O dinheiro é almejado, porém a crise cada vez mais aperta. O tempo de trabalho toma cada vez mais o de estudo. Não é porque se precisa que se terá- isso se encaixa para felicidade também. Não é porque a necessidade de ser feliz existe (talvez pela ditadura do bem-estar ou questões psicológicas) que ela será suprida.

Pelo momento social, fé em valores ou qualquer parâmetro existente, o mundo tem expectativas para você. Estudar, estudar, prova. Mais provas até vestibular. Se não passar, volte ao início, se der certo, volte ao início novamente. Provas e provas até concursos, entrevistas de emprego, sucesso profissional. Se tiver ou não, há de se achar amor- ah, desejo mesquinho de não estar sozinho. Procure o par perfeito- não, ele te encontrará. Enquanto isso, pegue e largue o que vier. Case, tenha filhos (de preferência 2, um menino e menina, para dá-lo a primeira playboy e ensiná-la bons modos). Aposente-se sem nenhuma conquista grandiosa por você, sem ser, quem sabe, um campeonato de futebol ganho entre ex-colegas de faculdade. Morra e tenha flores no enterro, mas um epitáfio genérico (o além condiz o aquém).

Pegue as suas expectativas consigo e subtraia as sociais: esse é o futuro mais miserável possível, e o único plausível com sua moral de rebanho não superada.

De mais vale, indo contra a escravidão da vontade geral- democracia de porcos -saia da ignorância maior num grito de individualidade falho, e vá até o topo do prédio onde mora (e faltam somente 20 prestações para quitá-lo) e tire as vestes- por um momento lembra-se de alguma notícia haver com 3 da tarde, mas ignora o pensamento.

Tenha o último lapso de unidade consigo enquanto cai e tire seus grilhões junto da vida.

-R.C.

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Transporte privado

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O trem de ouvido
Que sem ser chamado
Sem medo de ser inxirido
Se mete em tudo
Cem em cem usam de escudo
Deixam o externo mudo
Parece até absurdo;
Um monte de surdo
Voluntário pra largar o mundo
Não sei se surto
Parece tudo morto
Bando de quieto
Mas dentro tá inquieto
Não me meto:
Se sai porque tem medo
Não me intrometo
Só acho meio cedo
Pra humanidade largar o credo
No outro
Pra ficar ali alheio
Com tantos no meio
Tudo solto
Dentro de um trem
Com o trem de ouvido
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No jantar

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Boa noite princesa, como vai?
Vou muito bem, e você papai?
Também anjo. Já cheguei, mas logo mais tenho que sai
Mas por quê? Trabalhou o dia todo, isso a um mês ou dois…
Não é pra tanto meu anjo, mas é fase, melhora depois
Só tô com saudades. Senta comigo, vou comer um arroz
Acho melhor não, tenho que ir num lugar
Mas como assim papai, espera a mamãe chegar!
Não da filha, mamãe vai quer nem me olhar
É só não abrir o olho perto de você
Se fosse só isso… não quer me ouvir
Aí você se faz de mundinho
Uma casa cega e muda? E o que ia pensar o vizinho?
Ah, que a gente brinca toda hora. Posso também brincar?
(Ouve-se a campainha tocar altíssimo)
Filhota, tô indo então, te amo
Mas eu quero jantar com você! Fica comigo!
Eu já volto então meu anjo, só compro um cigarrinho e como contigo
Jura mesmo papai? Eu vou ficar esperando…
É isso que sua mãe tá fazendo
(Anos se passam e ela sentada à mesa
E a cada dia que passa ela perde a surpresa
Do pai não voltar pra comer a sobremesa.)

-R.C.

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