Barroco contemporâneo

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Idas e voltas
Navegações infinitas
Nau secular transbordando
Todo um mundo em seu deck
Ondas…
Só sobram ondas.
As quis mas falta mais
Como vais?
Gostaria de lhe pedir
A mão na minha
Sejamos dois corações apaixonados
Pendular,
Hora quer
Hora vai
Licurgo, me largue
Legislaste minhas perdas
Sem mais espaços
Divergindo entre espaços
Há muito tempo
Que estou sem
E ficou quem?
Só a tenho em memória
Deixou minha vida
Para habitar minha estória
Devaneios entre o que e o se
O fato é uma vida sem
Refletindo sobre como estar
Outras? Mais de cem,
De lugar em lugar
Se o lugar não colabora
Ressuscita-lá não será agora.

-R.C.

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Canto preenchido

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E dormiu com lápis na mão
O menino que queria ser poeta
Mas em seus cadernos,
Folhas, comunicados escolares,
Outros livros ou na própria mesa
Desejava passar a escrever poesia
Ao invés da lírica realidade vivida.
Dormiu com lápis na mão
Na esperança de nos sonhos ser enfim um poeta,
E não mais só menino.

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Espera(nça)

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Tanta espera
Me desespera
Alucina
Não por cima
Mas bem dentro
Já não me concentro
Só penso em ti ignorando
Ah!, a ignorância…
Como cega tudo
Tudo ou nada, nada mudo!
Ou amor quente pra morrer
Ou morrer de falta de amor
Sem mais motivo pra ser
Sem ser a espera cheia de dor

-R.C.

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Despedida

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Vem cá, meu amor
Diz pra mim o que não devias
Por antes ser proibido
Agora já não mais
Conta pra mim teus segredos
De hoje e daquela época
Como você sentia aqueles abraços
Como tu sentias naquelas tardes frias e calorosas
Me explica tua cabeça
Naquela chuva que tomamos nós
Quase desnudos, com inocência
Uma alma prometida e outra talvez presa
Faz o que não devia
Mas o que eu preciso
Me beija agora,
Antes da minha partida
São os últimos momentos
A gente se entende depois
Tudo o que temos
É agora para saber
Por favor, me beija, me mata
Para eu saber se beijo
Ou morro
Ou vou sem beijar
E sem morrer
E sem você.

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Pra, por

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Pra quê?
Já havia acabado
Por que?
Pra me deixar nesse estado?
Pra quê?
Eu já morri tantas vezes
Por quê?
Dentro de mim tantos seres
E todos falando de um futuro obscuro
No coração e no pulso um muro
Pra quê?
Teu sangue já caiu
Por quê?
Meu sangue imita
Psiu!
MInha cabeça agita
Pra quê?
Já não tenho razão
Por quê?
Também não toca na minha mão!
Não levanta minha manga,
Não tira minha camisa!
Sem tocar as feridas
Azul de quem pisa
As feridas são suas!
As dores são suas!
A dúvida foi sua,
Mas colocou em mim.
Os cortes eram seus
Mas os fiz em mim
Com força de Zeus
Tirei tudo enfim
Pra quê?
Por quê?
Só você!
Não tem de quê!
A dúvida mata
Você me mata
Me embebeda
Me ceda
O mundo não me aceita
Digo não
Não pra tudo
Não pra mim.

-R.C.

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Amor e poema

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Na vida e nos amores, tudo vale
Sejam sorrisos ou dores, mas na pele
Pois se não tem romance
Vira poema
Se é só um lance
E não há dilema
Uma história bem contada
Pode ser comum indolor
Ou crônico sofrimento incolor
Sem cicatriz, dor ou nada
Só a expectativa de melhora
Ontem, amanhã ou agora
Volto a repetir…
Na vida e no amor, vale tudo
Se vier drama demais
Posso me usar de escudo
Ou entrar e viver na paz
Se não vira teatro
Vira poema
Se não poema
Espetáculo.

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Amor além da matéria – sobre "Ela", Spike Jonze (2013)

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Mais que sobre a realidade versus artificialidade- trama bem explorada nas distopias modernas e, mais especificamente, pelo Black Mirror- o filme “Ela” (Spike Jonze, 2013) se trata de como nos relacionamos da mesma maneira em todos os campos da vida. Também é sobre um amor diferente do visto nos livros e poemas; um amor real e introspectivo, provindo de uma jornada de redescoberta de si.

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A fotografia de “Ela” há de se destacar; além da maneira tocante dos personagens de se relacionar, a movimentação, focalização e enquadramento do filme dão a ele outra dimensão.

O filme começa (genialmente) numa cena que viraria cotidiana no longa-metragem: Theodore (o personagem principal muito bem interpretado por Joaquin Phoenix) redigindo uma carta pra lá de tocante. O filme quebra as expectativas mostrando que esta é para alguém não relacionada ao protagonista, mas cliente da empresa na qual trabalha.
O envolvimento de Theo com a inteligência artificial ‘Samantha’ se dá de uma maneira controversa, mas natural (com a voz emblemática de Scarlett Johansson). Sem a possibilidade de materializar-se, pela falta de um corpo, Samantha se faz presente na vida do protagonista mesmo como um “computador”. Firmando-se como uma par-romântico, com sentimentos e pensamentos extremamente humanos se torna querida do espectador, além de uma verdadeira agente na vida de Theo.
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Theo se assemelha muito, na minha visão, à Paulo Leminski, grande poeta brasileiro. Ambos escritores, sensíveis e… com um notável bigode! (Acima, Joaquin Phoenix como Theodore. Abaixo, Paulo Leminski).

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“Acaso é este encontro / entre o tempo e o espaço / mais do que um sonho que eu conto / ou mais um poema que eu faço?” – Paulo Leminski,

 
A relação do protagonista com 3 mulheres principalmente faz a pergunta “a quem se refere o título ‘Ela’ se refere?” pode surgir, mas é só assistindo essa obra-prima do Cinema para chegar a conclusão: seria Samantha, a ex-mulher Catherine ou a melhor amiga Amy?
Fica mais que recomendado o filme “Ela” de Spike Jonze.
 
 

Ponto parêntesis Léo: conteúdos inspiradores e complementos

Antes de escrever essa resenha, dois vídeos me inspiraram a ver “Ela” e com toda certeza influenciaram minha maneira de assistir o filme (e creio que muito para o lado bom), por isso deixo aqui dois vídeos: um do Quadro em Branco, um canal do Youtube sensacional que trata de assuntos culturais-filosóficos-sociológicos de maneira sensacional (sou seguidor fiel do canal) e outro do Gustavo Cruz, um canal que conheci agora, mas com a produção interessantíssima. Fica a dica!

(Este vídeo trata mais da dimensão amorosa nos dias atuais, muito presente na discussão do longa, não se retrata diretamente ao filme em si.)

(Este traça paralelos entre “Ela” e “Lost in Translation”. Trás o background de criação do longa em questão, por isso tão precioso!)

 

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Vamos tomar um café?

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Me sinto meio satânico
Por evocar um espírito
Um velho, comigo cínico
Num corpo de novo hábito
Mas convenhamos que uma convenção
Veio comigo de tantas aventuras
Depois de tudo, sorrisos e suturas
Vejo um erro do passado que necessita curas
Só te peço isso:
Um café, sorvete
Chocolate ou leite
Para tentar resolver
O que o tempo me deu de solução
E agora coloco-a em ação.

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Adeus

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Me pergunto como faria
Se me pedissem um último poema
Será que falaria
Sobre ti ou outro problema
Talvez algo diferente
Para o assunto ser convergente
Me pergunto com quem
Falaria se me concedessem uma última conversa
Não sei se existe alguém
Tão específico para desenvolvê-la sem pressa
Você não seria nunca, sei que
Não saberia o que falar a ti
Onde estaria
Se tivesse um lugar pra morrer?
Terra tão idêntica, só muda cultura
Não acho que diferença faria
Já que fecharei os olhos a esquecer
Indo pro próximo mundo pela sepultura.
Me pergunto se amaria
Caso me dessem essa opção
Mas com certeza deixava fria
O calor doloroso que é meu coração
Que me queima sem pedir
E dói sem se despedir
Agora pergunte de novo
Se falaria de ti no meu último escrito
Pois aqui estou, num quarto sem grito
Cautelosamente lhe escrevendo, pisando em ovo por ovo
Enquanto a arma desmonto, remonto
Tu podes recusar, fingir que não é contigo
Mas a assinatura que deixo não é traçado
Mas sangue não muito antigo
Tirado num estalo sem final, dando fim ao perigo
De uma vida já sem ti, já sem libido.

-R.C.

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No jantar

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Boa noite princesa, como vai?
Vou muito bem, e você papai?
Também anjo. Já cheguei, mas logo mais tenho que sai
Mas por quê? Trabalhou o dia todo, isso a um mês ou dois…
Não é pra tanto meu anjo, mas é fase, melhora depois
Só tô com saudades. Senta comigo, vou comer um arroz
Acho melhor não, tenho que ir num lugar
Mas como assim papai, espera a mamãe chegar!
Não da filha, mamãe vai quer nem me olhar
É só não abrir o olho perto de você
Se fosse só isso… não quer me ouvir
Aí você se faz de mundinho
Uma casa cega e muda? E o que ia pensar o vizinho?
Ah, que a gente brinca toda hora. Posso também brincar?
(Ouve-se a campainha tocar altíssimo)
Filhota, tô indo então, te amo
Mas eu quero jantar com você! Fica comigo!
Eu já volto então meu anjo, só compro um cigarrinho e como contigo
Jura mesmo papai? Eu vou ficar esperando…
É isso que sua mãe tá fazendo
(Anos se passam e ela sentada à mesa
E a cada dia que passa ela perde a surpresa
Do pai não voltar pra comer a sobremesa.)

-R.C.

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