Começos bons

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O ano era 2016
Eu atravessava a rua
Pra pegar o 513L-10
Quase sempre atrasado
Eu e o transporte
Quase nunca rejeitado
Mesmo quase sem sorte.
A sorte era tua
De ter esse zero à esquerda
Sempre com nova queda
Largando moeda
Pra te ver no cinema
A janela era pequena
De tempo e visão
A gente num esquema
Já tocava o coração
Pra quem seguia o lema
Álcool, rap e pegação
Você burlou meu sistema
Virou a única opção
Agora anos se passaram
E já não somos conhecidos
Passaram e se acabaram
Meus tempos destemidos
Contudo, contundido
Esperanças afogadas
Respiro num mar de derrota
Um idiota de anedota
Sem caminho, sem rota.

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Uma gota de grafite num iceberg de papel

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Me parece que o tempo, cada vez mais, mais tira certezas do que as confirma.

Eu, que sempre cultivei amizades ao invés de coleguismos- me rendendo uma vida por vezes solitária-, julgava estas primeiras dignas pela profundidade de conversas e idéias, como se colegas não fossem dar a mim aquilo que busco: inspiração e conforto.

Errei. Errei feio.

O escoamento dos minutos tem me mostrado que conexões rasas dão às vezes conversas frutíferas, e também vejo que amizades profundas podem dar muita asneira no papo. Nada contra isso, claro. Mas me surpreende ver rios, possíveis de acabar no oceano (ou um mar, sem problemas) desaguem em lagos ou talvez sequem, enquanto uma poça pode terminar numa geleira.

É possível sentar-se na mesa de um bar e, por um comentário descuidado, não pensado e certeiro, começar uma troca de idéias muito (mesmo) grande e profunda. É possível nunca mais falar com a pessoa após, mas as palavras ficam.

Na falta de rios, poças e lagos na madrugada, me reporto ao papel, chuviscando estes humildes pensamentos. Uma gota de grafite num iceberg de papel.

-R.C.

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Despedida

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Vem cá, meu amor
Diz pra mim o que não devias
Por antes ser proibido
Agora já não mais
Conta pra mim teus segredos
De hoje e daquela época
Como você sentia aqueles abraços
Como tu sentias naquelas tardes frias e calorosas
Me explica tua cabeça
Naquela chuva que tomamos nós
Quase desnudos, com inocência
Uma alma prometida e outra talvez presa
Faz o que não devia
Mas o que eu preciso
Me beija agora,
Antes da minha partida
São os últimos momentos
A gente se entende depois
Tudo o que temos
É agora para saber
Por favor, me beija, me mata
Para eu saber se beijo
Ou morro
Ou vou sem beijar
E sem morrer
E sem você.

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Vale encantado

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A sensação de esquecimento mais pura
Sem preocupação alguma
Sem pensamento fora
Alienação pura
Um autismo coletivo
A tal da utopia
Colocada em realidade distante…
O mundo nunca seria tão perfeito
Mas aqui ele é
Aqui o respeito tem seus limites respeitados
São banais as coisas grandes
E abundantes as pequenas
Lugar que amo
Com gente nada sã
Todos que conheci sentirei saudade
No meu Aruanã

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O que os olhos não vêem as paredes contam

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A saudade que eu sinto é meio assim…
Dor que dói despercebida
Por baixo da aparência destemida
E se me perguntarem não digo que sim
Porque homem de verdade não chora
E meu herói poucas vezes o fez na minha frente
Não que por isso o aprendiz implora
Porém não quero ser diferente
Cada vez que desatino
Sinto-me arrependido
Como se as paredes tivessem ouvido
E contado às árvores, que contaram aos pássaros
Que contaram aos outros voantes
E numa rede desgraçada, quase destino
Chegaria ao ouvido do meu herói que chorei de saudade
Portanto não choro em público
No privado não me atrevo
Se eu conseguir manter a promessa de verdade
Vai ser por causa de algum trevo
Despercebido que entrou na minha não-casa
Foi chutado até o não-quarto
Criou em si uma pseudo-asa
E ficou pousado em minha carteira.

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Minimalismo megalomaníaco

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O mundo é grande demais
Pra amar só uma pessoa
Até disse pra um irmão como tava apaixonado por aquela mina
Ele olhou pra mim e declarou
“Você se apaixona por todas, não é?”
E ele tá certo mesmo,
Por isso amo todo mundo
Sem distinção e nem nada
Tenho sentimento demais dentro de mim
Para colocá-lo em uma só história
Vou distribuir este em várias
Até achar uma que caiba todo o resto

O mundo é grande demais
Pra viver em um só lugar
Amo cidades natais, de verdade
Mas eu vou renascer em cada uma em que pisar
Crescer naquelas nas quais dirigir
E morrer ao sair destas
E a cidade natal é tal como Jerusalém
Onde minha ressureição é continua e certeira
Até ir morar em outros planos que não o terrestre

O mundo é grande demais
Para pensar tanto antes de fazer
Ok se é uma decisão tão grande
E mudar sua vida pode
Mas pegar o ônibus errado
Errar na bebida e ter um porre mal amado
Amar a garota bem estranha
Estranhar o lugar onde foi parar
Parar no espelho e pensar como está sem noção de nada
Nadar no mar com um frio ferrado
Ferrar com a vida de um babaca desprezado
Prezar por quem talvez não te queira tão bem
Bem-querer a todos sem pensar quem é
Ser aquela pessoa sem pensar em quem ser

O mundo é grande demais
Pra ter a cabeça tão pequena
Ele vai rodar mil vezes
Até você deixar de ser tão quadrado
Ele é aberto e livre pra fazer um mundo de coisas
Para que pensar dentro da caixa?
O mundo é um livro em aberto
Onde escrevemos cada um um capítulo
E por mais que essa Bíblia tenha mais de 4000 anos
Quero mais que só algumas páginas
Várias histórias e reviravoltas
Um verdadeiro mito, não relato
Porque

O mundo é grande demais
Para viver em crônica
Ou ter só alguns contos
Quando pode-se ter romances
Performar vários dramas
Se deliciar em diversos poemas
E fazer de si mesmo um texto incompleto
Com começo, meio e sem final definido

O mundo é grande demais
Porque a vida é grande demais
E durante ela, ao invés de se fechar no seu pequeno mundinho
Pode-se abrir para o de todo mundo
E ter tantos universos sem saber qual escolher
Pois as opções são grandes demais.

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Uma (rápida) história de amor dinâmico- As Crônicas de um Fotógrafo

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Conheci Maria num lugar diferente: em baixo de um poste.
A gente se trombou ali, deixamos as malas caírem e aconteceu, como se fossemos Eduardo e Mônica. Sem querer, trocamos algumas folhas (por acaso, importantíssimas pra minha prova em 1 semana), e em uma delas tinha o nome dela, e no momento em que percebi o sumiço de tudo, procurei-a imediatamente no Orkut (sim, ainda era assim naquela época).
Começamos a conversar um pouco; ela estava cursando engenharia, eu psicologia. Ela amava física, eu gostava mais de estudar o físico humano. Ela amava São Paulo e o Rio, eu queria era Dubai, Buenos Aires e Toronto. Eu chamei ela pro teatro, ela quis ver filme alugado (posteriormente seria um netflix, mas enfim).
Rápidamente nos tornamos amigos. Ela namorava um tal de Gabriel (gostava do cara mesmo) e eu tava caindo por ela. Digamos que eu não tinha ciúme, mas mesmo assim ela nunca dava muita bola… até o dia que eu chamei ela pra ir pro campinho tirar foto.
Nesse dia ela me viu de um jeito diferente. Como psicólogo, sempre amei estudar a mente através de expressões artísticas e me tornei um fotógrafo. Olhando para ela, tirando suas fotos… ela simplesmente me amou. Em cada flash, senti-me mais amado e mais importante. Em cada pose ela se deixava amar mais, se deixava mais aberta. Uma semana depois, Maria terminou com Gabriel.
Eu não acreditei quando me contou. Ela veio em minha casa, abriu a porta sem pedir pra entrar e chorou. Não porque tinha terminado um namoro de 2 anos, mas porque pensava mais em mim no que em Gabriel. Ela chorava enquanto pedia desculpas por confundir tudo e estragar nossa amizade, sem saber se tentava voltar para ele, mesmo não o amando.
Eu olhei para ela e disse que não havia porque se desculpar, pois o sentimento era recíproco e a relação podia crescer (e muito) com o tempo e profundidade.
Nesse dia, nos beijamos pela primeira vez.
Já estávamos terminando a faculdade, então logo começamos a morar junto- já nos conhecíamos a 1 ano e meio, mesmo o namoro sendo recente.

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Foto por Márcia Kaori

A gente saía sexta para o bar, sábado pro cinema, domingo em casa. Fomos pra Dubai, moramos 1 ano no Rio e voltamos pra Sampa. Visitávamos exposições, teatros e vimos todos os filmes do Netflix. Ela via todas as minhas fotos, eu tirava um monte dela. Eu atendia pessoas na rua de baixo, ela fazia projetos na sala de casa.
Passaram-se 3 anos após o início dessa rotina, e algo extraordinário aconteceu: uma casa foi construída na frente daquele poste e tiveram que derrubá-lo. Felizmente, o dono da casa não quis deixar o lugar escuro, e colocou um “lustre” velho para ajudar… peguei minha câmera anteontem, tirei uma foto dali e mostrei para Maria. Não contei que vou pedir ela ali, mas…
Será que ela aceita?

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Ser adolescente é foda.

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As pessoas tentam explicar o porque você se sente de um determinado jeito cientificamente, falando dos seus hormônios, que você  não sabe o que está fazendo.
Ser adolescente é foda.
Elas já pensaram que, simplesmente, não existe explicação? O jeito que se pensa é único e seu, não resultado de hormônios que mexem com a sua cabeça. Você pode tomar decisões, você sabe oq faz. Um dia talvez volte atrás, mas os adultos fazem isso, por que adolescentes não tem esse direito sem julgamento?
Ser adolescente é foda.
Alguns tem a sorte de um amigo “psicólogo” e parceiro, que não tenta decifrar o que se sente, mas apóia. Participa.
Ser adolescente é foda.
Se eu pudesse apostar, falaria que um melhor amigo tem maior participação e peso na vida de um adolescente que os próprios familiares. Como as famílias tentam prevenir isso? Proibindo. Reprimindo. Isso é bem mais fácil que fazer papel de melhor amigo.
Ser adolescente é foda
 
 

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