Poesia em geral, de todos os tipos, para todos os gostos
Honestidade é um perigo
Arma certeira e dolorosa
Usá-la requer alma habilidosa
Dor legítima,
Lastimável latência
Deplorável ardência
Espiar, contornar
Esconder, demonstrar
Luz do dia, ao luar
Omitir é mentira
Crime pior do que homicídio
A morte causada outrora
É a única verdade plausível
-R.C.
O mundo é grande demais
Pra amar só uma pessoa
Até disse pra um irmão como tava apaixonado por aquela mina
Ele olhou pra mim e declarou
“Você se apaixona por todas, não é?”
E ele tá certo mesmo,
Por isso amo todo mundo
Sem distinção e nem nada
Tenho sentimento demais dentro de mim
Para colocá-lo em uma só história
Vou distribuir este em várias
Até achar uma que caiba todo o resto
O mundo é grande demais
Pra viver em um só lugar
Amo cidades natais, de verdade
Mas eu vou renascer em cada uma em que pisar
Crescer naquelas nas quais dirigir
E morrer ao sair destas
E a cidade natal é tal como Jerusalém
Onde minha ressureição é continua e certeira
Até ir morar em outros planos que não o terrestre
O mundo é grande demais
Para pensar tanto antes de fazer
Ok se é uma decisão tão grande
E mudar sua vida pode
Mas pegar o ônibus errado
Errar na bebida e ter um porre mal amado
Amar a garota bem estranha
Estranhar o lugar onde foi parar
Parar no espelho e pensar como está sem noção de nada
Nadar no mar com um frio ferrado
Ferrar com a vida de um babaca desprezado
Prezar por quem talvez não te queira tão bem
Bem-querer a todos sem pensar quem é
Ser aquela pessoa sem pensar em quem ser
O mundo é grande demais
Pra ter a cabeça tão pequena
Ele vai rodar mil vezes
Até você deixar de ser tão quadrado
Ele é aberto e livre pra fazer um mundo de coisas
Para que pensar dentro da caixa?
O mundo é um livro em aberto
Onde escrevemos cada um um capítulo
E por mais que essa Bíblia tenha mais de 4000 anos
Quero mais que só algumas páginas
Várias histórias e reviravoltas
Um verdadeiro mito, não relato
Porque
O mundo é grande demais
Para viver em crônica
Ou ter só alguns contos
Quando pode-se ter romances
Performar vários dramas
Se deliciar em diversos poemas
E fazer de si mesmo um texto incompleto
Com começo, meio e sem final definido
O mundo é grande demais
Porque a vida é grande demais
E durante ela, ao invés de se fechar no seu pequeno mundinho
Pode-se abrir para o de todo mundo
E ter tantos universos sem saber qual escolher
Pois as opções são grandes demais.
Mesmo alcoólatra,
Não bebo já a 5 meses…
O cigarro fumei algumas vezes,
Mas agora fazem 8 semanas sem
O pó foi uma só, poderiam ter sido cem
O chá nem tentei,
Não por ser pior ou melhor
Mas porque sei
Que não tiraria a dor
Acima de todos esses vícios na minha existência
Meu maior orgulho é ter passado
Pela sua abstinência
6 meses sem ti
E já estou desintoxicado.
-R.C.
Várias fotos
Piadas internas
Memórias estranhas
Risadas distantes
Olhares alegres
Sensação ruim
Observação torturadora
Tempo demorado
Hora
Minuto
Segundo
Dia
Semana
Mês…
Comparação inevitável
Compreensão uma tentativa
Perfeição não alcançada
Sem inveja, somente desconforto
Dominante, imponente, eminente
Desconforto enorme
Entediante, mortífero, incompreensível
Desconforto real
Sentido, compreendido, complexo.
-R.C.
Quero me mudar
Tanto, e tão radicalmente
Que nem eu, meus amigos
Sequer pais e namorada
Vão reconhecer-me
Quero me mudar
Ir à lugares inimagináveis
Viver aventuras impossíveis
E depois de vividas, olhar ao espelho
Suspirar fundo
A tempo de dizer:
Ah! Como foi boa a vida que vivi
Quero me mudar
E ter todas as segundas chances
Dadas pois já não sou o mesmo
Nem de casa ou espírito
Sem raízes ou fundações
Quero me mudar
Não só as células do corpo
Mas a água d’alma
Purificá-las de tal modo
A dar inveja de quem fui
Quero me mudar
E descobrir quem gosta de mim
Se é do próprio
Ou do que ele oferece
Quero me mudar
E desmudar
E mudar novamente
Até nem mais lembrar como fui
Os erros que cometi
Os acertos feitos
Me mudar até já não ter o que mudar
Peguei aquele álbum velho
Sentei em minha cama
Numa daquelas noites de se olhar ao espelho
Se perguntando quem agora me ama
Por que a vida assim está
Mas sem chorar, com momentos de reflexão
Aproveitando o momento com a melhor intensão
Porque, talvez, a beleza da vida
Esteja nesses bons momentos
Nos quais olhamos fotos
Lembrando da felicidade oferecida
Não em um jatinho ou cobertura
Amar e desamar
Mas sim no olhar para trás
Momentos com pessoas que não vem mais
E sorrir sem nosso passado relutar
Quem sabe a questão
Seja ver que o mundo sempre está eterno
Ou caindo aos pedaços
Devemos notar, então
Que o ser humano é subalterno
De um ciclo de choros e abraços
Tapas e amassos
E como é bonito ver como são
Os momentos de olhar a fotografia
Lembrando do amor infinito
Daquele momento
E em poucas palavras negocia
O que deveria ter sido e o que não
Na verdade, todos eram
E nenhum, pois
Se aconteceram, deviam
Se acabaram, já não mais
Se olho para a foto com saudades
É de um tempo longínquo e já impossível
Dando risadas de algo inadmissível
E na época fui incapaz
De rir como gargalhei agora
Vendo como tudo o passado explora
Peguei aquele velho álbum
Sentei na cama minha
Naqueles dias nos quais Dona Zinha
Diria que o povo lá fora ficaria bebum
Porque é difícil ver a vida com sua beleza
Mais fácil vê-la com asco e aspereza
À olhar pra tantas fotos de momentos finais
Com felicidade por estes e pelos inícios
Pelas metades e tudo mais
Já não se morre de amor
Só cigarro, álcool e coca
Valoriza-se menos a overdose do que a dor
De viver sem determinada boca
Ai de mim nos tempos modernos
O charuto não é moda
E a todos que isso incomoda
Preserva-se o estilo, mas não a convenção
De acendê-lo para continuar a conversação
Ai de mim nos tempos modernos
A música sequer tem violino,
Tudo elétrico, eletrônico
Ouvi-la requer força, como num supino
Já que é tudo quase supersônico
Ai de mim nos tempos modernos
Saudade do mundo difícil
Tão simplificado
A nova geração é cheia de imbecil
Tudo de mal virá duplicado
Ai de mim nos tempos modernos
-R.C.
O que faço com as músicas
Aquelas que ouvíamos no mesmo fone
Durante beijos, jogo de cintura e sinuca
Devo esquecê-las ou as ouvir com qualquer clone?
O que faço com os poemas
Aqueles que te escrevi
Devo colocá-los acima de tantos problemas
Ou esquecer que já os vi?
Com os lugares visitados
Cheios de risadas e carinhos
Aqueles momentos sempre são ressucitados
Não importa se pego outros caminhos
Com os filmes
Meio vistos, meio não
Devo nunca mais vê-los então
Para não sentir qualquer ciúmes?
Tudo isso são memórias
Criadas por você e por mim
Antes nossas histórias
Agora só minhas ou suas
Simples assim
Antes centenas, agora uma ou duas
Vou livrar-me delas como posso
Álcool, cigarro, maconha ou coca
Faca, espigarda, bastão ou pistola
Porque o mundo meu costumava ser nosso
E nos meus sentimentos a poeira se estoca
Lembrando de ti minha vida se atola
É hora de esquecer da maneira possível
Violenta, silenciosa, privada ou dolorosa
Socialmente deslocado, odiado, imiscível
Lembrança que me mata, não me preza, a facada me lesa.
-R.C.
Olá, velho mundo
Aqui quem narra é o novo poeta
Com visão para todo o absurdo
E eliminá-lo é minha meta
A nova poesia segue nenhuma lei
Métrica ou obrigatoriedade
E a escrevo do jeito que sei
Sem escola, só a realidade
Não preciso de suas academias
Cartilhas ou aulas de literatura
Bandeira e Andrades me passaram manias
E as copio na cara dura
Faremos sua destruição
Do mundo que conhece hoje
E daí a criação
Da Anarquia como nunca se pode
E Proudhon se orgulharia
Bakunin brindaria a inconfidência
Autores míticos, não velharia
E sem liderança continuaremos a dissidência
Rasguemos o tal “contrato social”
Escrito pelo dinheiro, medido pelo capital
A única Vontade ouvida agora
É a dos ricos irem embora
Sem mais exploração!
Agora, a sociedade inacreditável
O mundo novo para admiração,
Para mais novos poetas, almejável
Seja realista!
Demande o impossível
Utopia é mal vista
E nunca crível
Mas é só abrir os olhos
O novo poeta já surgiu
Um mundo assim é incrível
Verdadeiro e chegará
Esperem olhando seus relógios
A sinfonia das luzes
Mantém-me acordado a olhar o mundo
Não sei quem é o maestro-mudo
E não creio ser o pendurado nas cruzes
Só cego-me com sua beleza
Alegre as olhando com firmeza
Essas noites de poesia
Arguile, álcool, enfim, boemia
Remetem-me ao antigo e ao novo
Lembram-me da fumaça subindo
Meus batimentos a sumir
A vida só se esvaindo
Quando eu deitava pra dormir
Comparam o calor interessante
Sentido por mim nesse instante
Ao carvão ardente
Trazido de novo a minha mente
Agora olho Paulista afora
Doendo-me todo com o simples agora
Que recebo penetrado pelo luar
A sincronia das luzes
Tira-me a energia num piscar monótono
Eletricamente, mas falhando às vezes
Sei que essa bobagem já não tem dono
Fecho meus olhos, já sem paciência
Irritado as privo, afinal, da minha humilde audiência
A madrugada de pesadelo
Sem sono, olhando o vazio
Me encolho todo, sentindo o frio
O clima está agradável
Mas o gelo domina a alma
É só lembrança impecável
Do momento em que me rendi à calma
Momentos inexplicáveis, estranhos
Repensados em conversas e banhos
Só mais um reflexo do mundo normal
Chato e cinzento, enfim, sem sal
Continuo nele, estranhamente
Vivendo no mesmo contingente
Em que parei anos atrás
A sintonia das luzes
Mata minha esperança num ligar igual
Não me satisfazem, por diversas teses
Odeio viver nesse mundo real
Revejo o passado, mas ele não volta
O parapeito me sente, e da parede se solta
-R.C.