Criticas sobre livros literários de qualquer natureza, acompanha uma pequena coletânea de trechos/frases da obra (sem spoilers, ou seja, frases que podem ser entendidas e admiradas sem o contexto do livro).

Os melhores discos nacionais de 2019 – e alguns singles.

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O ano de 2019 foi um ano abençoado para a música brasileira, em questão de qualidade de produção. Um ano frutífero, como não poderia deixar de ser, numa terra que constantemente dá espaço para mentes de artistas tão geniais.

Ano passado, mais ou menos nesta época, eu estava escrevendo sobre o EP. Espelho, da Drik Barbosa, menos de um ano depois ela lança seu disco de estréia, auto-entitulado. Por isto, pensei em escrever sobre ele mesmo, como uma continuação; porém, percebi que não teria como falar sobre esse disco, não pela falta de profundidade, mas porque eu queria fazer algo mais simples primeiramente.

E é dai que vem a ideia de listar meus discos favoritos do ano, e fazer um breve comentário do porquê deles estarem aí. Caso venha a calhar destrinchar mais conceitos em posts individuais, será feito. Sem mais delongas…

Não tem ordem, rank: somente listagem

Psicodelic – Coruja BC1

Não foi o primeiro álbum que ouvi no ano, mas definitivamente um dos que eu mais esperava. Desde 2017 quando o Coruja soltou o NDDN sou fã dele, desde a escrita, musicalidade à estética dos clipes a arte de capa.

Ouvi bastante e posso afirmar que eu gostei de Psicodelic como um todo. Eu costumo a dizer, pra quem quer ouvir, como analiso um CD a partir da primeira faixa. E o Coruja fez isso muito bem; Lágrimas de Odé é uma música extremamente completa, com começo-meio-fim definidos e poderosos. Por mim, a melhor faixa, dá o tom que o resto vai seguir, como se Psic. fosse uma conversa e Lágrimas fosse o script desse solilóquio do Coruja.

Vale a pena ouvir, mostra diversidade por parte do artista, que se aventura em variações dentro do rap em geral, além de temáticas e etc.

Mixtape: O Homem Não Para Nunca – Froid & Santzu

Admito que eu não sou o maior fã do Froid, e não havia ouvido Santzu antes desse disco. Por mim, o Froid lançou dois álbuns consecutivos que tinham conceito promissor mas execução mediana, o que me decepcionou, então passei a desconfiar de absolutamente tudo que ele faz.

Aí ele lançou essa mixtape colaborativa.

Por mais que eles chamem de mixtape, vejo algo muito bem pensado e quisá planejado. Ao contrário dos solos do Froid, o conceito é despretencioso e a execução excepcional. Não só a musicalidade está consistente e trabalhada como as letras estão bem escritas- tanto pra um quanto pra outro.

O primeiro som, Ninguém Morre Me Devendo, que não é a intro (que eu adorei, por acaso), coloca o Froid pra fazer o refrão de primeira, o que dá espaço pro ouvinte novo, como foi o meu caso, conhecer o Santzu sem um efeito de ancoragem. Dali pra frente, quando se ouve, ambos são igualmente valiosos para a construção da obra.

GEO_01 – GEO

GEO apareceu nas recomendações do meu Spotify por um som que ela fez com o niLL, artista que eu gosto bastante. Mas ela faz algo que flerta com o Pop, gênero que eu sempre evitei, em geral.

De primeira eu já amei o conceito de ciborgue utilizado como personagem por ela nas músicas, inclusive nesse disco de estréia.

 As expressões normais, como “comunicação“, ganham uma atmosfera mais completa, talvez mística quando utilizadas por ela. É um pouco de metáfora, de personagem, de estética e mais um pouco. Se no Trap é normal usar sons mais robóticos/eletrônicos e se vê uma significação, na música dela cada pequena nota dá um pouco de curiosidade do que vem depois- além de que ela tem uma voz excepcional de boa.

Recomendo todas, e especificamente na ordem do disco.

Capa para ilustrar qual disco é referenciado no texto.

PADRIM – FBC

Curto o FBC já desde 2016, por causa principalemente do DV Tribo, e passei 2 anos agonizantes pedindo mais música e um álbum; desejo que foi concedido ano passado com S.C.A., e para a nossa sorte a caneta dele não descansou.
O disco como um todo é bom, mantém um nível alto de sonoridade e até que há variedade.

Dito isso, vi dois problemas na obra que não necessariamente atrapalha o ouvinte de aproveitar, mas eu como fã me vejo na posição de mencionar: a introdução, que não acrescenta muito na compreensão total, e a falta de unidade do CD. São músicas ótimas, mas que mais cabem como uma mixtape do que um álbum, na minha opinião. É como se o conceito fosse ou amplo demais ou simplesmente não existente.

Em compensação, as músicas são deliciosas de ouvir, letras que mostram habilidade e os feats parecem ter sido escolhidos a dedo. PADRIM entra sim nos melhores.

Rap de Massagem – Hot e Oreia

O DV Tribo apresentou pro RAP alguns dos nomes que mais chamam atenção; e esse foi um caso muito peculiar. No grupo, dava pra ver já que esses dois tinham uma pegada não exatamente igual à dos colegas, mas eu não imaginei que daria em algo no naipe do que essa dupla entregou nesse ano.

Eu, sem exagero, me apaixonei por todas,

Capa do CD Rap de Massagem, da dupla Hot e Oreia

e repito, TODAS as músicas desse CD. A pegada comediante e ácida trazida nas letras, clipes e até instrumentais é única no cenário nacional; e até onde eles se colocam em posição séria, que (não por acaso) é logo na primeira do álbum, Eparrei, se vê a mesma ironia, mas utilizada em outro prol.

Eu garanto que os 30 minutos serão extremamente bem utilizados. Dou foco para, principalmente, Eparrei e Cigarro, respectivamente primeira e últimas músicas.

Fazendo Arte – Sant & LP Beatzz

Sant e LP já colaboravam há um tempo, e esse EP, que nas palavras do próprio MC é o último da carreira dele no RAP, foi lançado em colaboração.

A produção é de ponta, as letras seguem na mesma vibe- é sem dúvida uma perfeita despedida para alguém que marcou toda uma geração- se não de rappers, de ouvintes.

Um dos conflitos que passei quando pensava sobre esse EP foi que, pela simbologia, merecia esse estar no top 5 discos do ano, mas infelizmente a obra inteira soma 9 minutos; e por mais que eu já tenha ouvido esses 9 minutos 90 vezes, é injusto comparar esse conjunto com outros com tamanho maior.

Sem dúvida Sant fará falta e LP há de continuar produzindo com a mesma finesse.
Fizeram juntos uma obra memorável.

DRIK BARBOSA – Drik Barbosa

Finalmente, deixa eu falar um pouco da estréia dessa artista sensacional que é a Drik. Pra quem leu o post que deu origem a esse (o sobre Espelho) é óbvio que eu sou um grande admirador da versatilidade da Drik enquanto letrista e rimadora. Isso não poderia deixar de ser explícito no álbum.

Ela passa por muitos estilos diferentes,

Capa do disco homônimo de Drik Barbosa, que tem a própria sentada numa cadeira de madeira, em cima de um tapete, fundo branco.

mas é com tanta naturalidade que só se percebe isso ao fim, quando volta-se pra buscar alguma música que agradou mais, seja pela letra ou sonoridade, e fica muito fácil saber qual é qual. As transições do CD são excepcionalmente bem feitas, as melodias agradam muito e as rimas são de altíssimo nível.

Vale dizer que as minhas prediletas foram Herança (sim, eu tenho uma predileção por primeiras músicas, principalmente se elas traduzem o conceito de um disco com tamanha maestria), Rosas Liberdade. Não deixem de ouvir essa obra!

Pedras, Flechas, Lanças, Espadas e Espelhos – Thiago Elniño

Eu sei que a gente não ouve disco pelos interlúdios, mas eu devo admitir que no ‘Pedras, Flechas, Lanças, Espadas e Espelhos‘ as pontes são tão gostosas de ouvir que não tem nem como não ouvir e se ver aproveitando quase igualmente.

O Thiago é um letrista habilidoso, e usa de todos os artifícios para fazer músicas 

extremamente impactantes no ouvinte- frases como ” [… ]vários que assim como nós / tão esperando chegar sua vez / de acertar a boa, mega-cena, fé a toa / mas não se pode sonhar muito / quando tem que se acordar as seis” (Nova Oração, 3:30).

O disco fala muito sobre ancestralidade, como uma jornada que ElNiño leva o ouvinte a se conectar com suas origens pretas. Essa parte sai do meu lugar de fala, mas o que consigo dizer com firmeza é que independente se você tem ou não ancestralidade preta próxima, ele consegue te fazer sentir, ver e entender novas coisas.

Deste, destaco Nova Oração, Atlântico e Filhos do Sol; mas já antecipo que vale ouvir inteiro e aproveitar da aula de conceito que está tão próxima de você.

AmarElo – Emicida

Desde 2015, quando ouvi Boa Esperança, e o disco ‘Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e  Lições de Casa…‘ tenho esperado um novo conjunto por parte do Emicida. Não por pouco ele é um marco na música nacional, e AmarElo é uma continuação à altura desse legado que ele está deixando para nós.

O disco mostra o amadurecimento do artista,

tanto como pessoa como músico e poeta. Assim como Elniño e Djonga, Emicida trata aqui de resgate e herança da cultura preta, e faz isso com habilidade.

Dito isso, vale pontuar que as músicas até Ismália tem uma pegada mais leve em questão de sonoridade, menos graves- enfim, um estilo como um todo; a partir daí, ele coloca Eminência Parda e Libre, que parecem meio perdidas em meio ao conjunto- e não me entenda mal, ambas são ótimas, mas, em vibe, não me pareceram condizentes com o total.

Recomendo Ismália e A Ordem Natural das Coisas. A primeira tem um peso emocional muito grande e a participação de Fernanda Montenegro na declamação do poema de Afonsus de Guimaraens; já a segunda faz uma relação interessantíssima sobre a rotina da mãe do artista com o dia-a-dia da cidade, com alusões e metáforas que te fazem refletir.

Ok, não tinha ranking até agora, mas esses dois merecem diferenciação

Abaixo de Zero: Hello Hell
– Black Alien

Black Alien conseguiu algo impressionante: numa época dominada pelo trap e variantes mais aceleradas do RAP, fez um disco inteiro com instrumentais mais calmos e puxados pra um jazz em contraste; além disso, foi no caminho inverso da cena que, em geral, tende a glamorizar o uso de drogas (e não há criticismo, apenas

constatação, aqui) fez letras que dão um enfoque maior em como o uso irresponsável leva num caminho mais sombrio.

Pra ser honesto, os dois discos anteriores do Gustavo não me desceram tão bem; não é como se eu achasse ruim, mas o tom usado pra descrever os Volumes 1 & 2 de Babylon by Gus é quase canônico, tratando-os como obras-primas da música. Respeito essa posição, e pode ser que eu venha a admirar ainda mais no futuro. O ponto é que quando o clipe de Que nem o Meu Cachorro foi lançado, eu não estava inclinado a gostar tanto do som. Ouvi provavelmente em boa fé devido ao quanto eu curto Mister Niterói ou Como Eu te Quero, mas depois de terminar, eu já estava totalmente vidrado. Logo, quando Abaixo de Zero foi lançado, eu não tive opção se não ouvir, e ouvir e ouvir.

A ironia de usar um estilo de música que usualmente normaliza o uso de maconha, bebida, lean (novamente me sinto na obrigação de dizer que não acho errado ou certo, só constato que é o que acontece, principalmente no exterior) para fazer uma crítica sobre esses hábitos é genial. Realmente nos faz agradecer a força que o autor deve para largar, sobreviver e escrever músicas tão boas.

Ao contrário de alguns álbuns nessa lista, não há uma variedade grande no disco- nem em musicalidade ou em temática. Pelo contrário, Black foca nessa sonoridade flertando com o Jazz, bem orgânica, e usando comparações, metáforas ou discurso direto para falar sobre drogas. E o foco deu frutos.

Como dá pra adivinhar, recomendo que todos ouçam esse disco inteiro, de preferência pelo menos duas vezes. Uma em sequência e outra no aleatório, para ver o como a obra tem uma ordem proposital e como os sons individuais também são de qualidade. Dou destaque para o single Que nem o Meu CachorroÁrea 51.

Próspera – Tássia Reis

Pra quem acompanha o blog, essa parte não é surpresa alguma, visto que lá pro meio do ano eu já havia falado desse disco e elogiado ele de todas as formas e em todas as formas possíveis. Por isso, eu não vou me extender muito nesse comentário.

Próspera, ao contrário das virtudes do Hello Hell acima, faz músicas de todo tipo- e muito bem. Tássia Reis

demonstra versatilidade, interesse e clara dedicação em mostrar que pode explorar qualquer estilo, vibe, gênero, temática; nesse disco, ela canta, ela rima, ela harmoniza…

Não cabe em palavras o quanto eu me apaixonei por esse álbum, a quantidade de vezes que ouvi a obra como um todo, as músicas individuais… enfim, Próspera é, de fato, música de todos os tipos e da melhor qualidade.

Fica aqui novamente o apelo para que todos ouçam esse disco, que para mim é atemporal e indispensável. Depois de alguns meses ouvindo, não vou deixar de recomendar uma favorita como fiz antes. Mas serão 3.

Dollar Euro, com participação da Monna Brutal, um trap muito delicioso de ouvir, participação espetacular e rimas agressivas. Eu + Vc, com participação do Fabriccio, um som mais meloso e calmo, mais cantado e tocante. Por último, Me Diga, que é um bom meio do caminho entre as duas anteriores, que trás uma mensagem de auto-reflexão e inspiração.

Extras…

Esse post já está muito, mas muito, maior do que eu pensei em primeira análise, mas já que estamos aqui, vou matar tudo de uma vez- e por último, além dos discos, queria falar de alguns singles que eu acho que marcaram o ano de 2019 (pelo menos para mim):

Peguei a Xai – Dona Maria MC

Esse som é um trap muito delícia, e a Dona Maria sempre entrega uma rima à altura.Aposto muito um próximo disco dela.

Time da Casa – TheGusT

Curto bastante a sonoridade do TheGusT como um todo, e nesse som eles voltaram ao antigo estilo deles, e misturado com um pouco do novo. Vale a pena conferir.

Jogador Caro – Negus

Negus é o vulgo do antigo Nego-E, que trouxe pro mundo em 2016 Oceano (um dos meus discos favoritos). Depois de um tempo sem novidades, esse som deu pra matar a saudade.

O Quarto Continente – GÁBE

Logo depois de lançar seu EP visual, GÁBE soltou esse single como uma continuação- e inclusive ambos conversam muito bem.

Os Três Continentes de um Soundcloud – GÁBE & Arit

O GÁBE é sem dúvida um dos rappers mais talentosos na cena em questão de escrita; ele ousou nesse EP visual experimentar com gravação, propostas mais abstratas e acertou em cheio. Coloquei ele aqui pois, em questão de autoria, menos de 5 minutos do EP são escritos e rimados pelos próprios. Ainda sim, marcou!

SDDS Sant – Furamil 2Cão

O Furamil manda muito bem desde o começo, e parecia que haviam parado de lançar ano passado, mas pegaram o hype em cima da aposentadoria do Sant e lançaram esse single que tá ótimo.

Licor – Budah

Ah, a Budah. A voz dessa mina me impressiona de tão boa, e essa música não sai nem um pouco da reta dessa expectativa.

 

Vista Loka – Bivolt

Bivolt é muito talentosa na caneta e voz- e depois de uns meses na inatividade, soltou esse som com clipe, que com visuais chamativos e pegada (ainda) mais combativa.

Termino aqui os melhores de 2019. Concorda com tudo? Faltou algum disco ou single que você colocaria? Manda aqui pra gente!

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Romance, orgulho e luta racial – 'Próspera' é música, de todos os tipos, da melhor qualidade

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A minha experiência com Tássia Reis é limitada.

Infelizmente, quando a ouvi pela primeira vez, numa cypher do RapBox, Sinfonia da Revolução, eu não curti muito; pra ser sincero, naquela cypher eu só gostei de metade da música. Eu admito, desde esse momento, que a voz era boa, mas por algum motivo o verso, a quebra de ritmo do beat não me agradaram. Mas tudo bem. Não foi a última vez que trombei com ela em playlists.

Imagem de divulgação do single ‘Contramão’, com Tássia Reis, Pìtty e Emmily Barreto.

A segunda vez foi seis meses depois, no single “Contramão“, da Pitty.. Pitty é uma artista que eu tenho como querida, mesmo não sendo minha favorita. Dessa vez, Tássia roubou totalmente a minha atenção. Apesar de um tipo similar de participação, no sentido de mudança de ritmo e tudo mais, dessa vez eu não conseguia tirar aquilo da cabeça; porém ainda sim a primeira impressão de seis meses antes não havia desaparecido.

Algum tempo depois, provavelmente em alguma playlist de novidades ou no DailyMix do Spotify, ouvi duas músicas de tons completamente opostos da mesma: Shonda e Se Avexe Não. Aí não teve como negar que o primeiro verso ouvido era uma peculiaridade- ou realmente algo fora da curva de qualidae dela ou alguma frescura minha que eu não consegui identificar sozinho, mas, de qualquer maneira, o fato é que a Tássia é extremamente talentosa e tem muito pra falar, de maneiras diversas e maravilhosas.

Thumbnaildo videoclipe de Se Avexe Não

Se avexe não
Não chore
Nem se demore nesta dor
Porque acalanto do seu coração
Está vindo
E é tão lindo quanto esta canção

Se Avexe Não

E pouco mais que quatro meses depois, ela lançou um disco novo, que ouvi sem compromisso algum no trabalho a primeira vez, e estou ouvindo uma ou duas vezes por dia desde então: Próspera.

Tô na contramão do sistema
Eu tenho medo da polícia
Mais de você, sinto apenas pena

Imensa Luz

Esse álbum é simplesmente incrível. Tássia usa e abusa da sua voz poderosa, mas não tem medo de colocar um auto-tune para alcançar efeitos diferenciados. em uma faixa solta punchlines cirúrgicas e na outra fala de amor com uma leveza tocante.

Como eu falei no começo, minha experiência com a Tássia é limitada, e talvez por isso eu ainda me impressiono com a flexibilidade artística- mas eu acho difícil. Não me lembro a última vez que vi um álbum que mesclou com tanta maestria um R&B, trap, MPB, jazz… enfim, deu pra entender a extensão dessa habilidade.

Tudo é uma incerteza
Mas senta aqui na mesa
Me paga uma breja
E pensa eu mais você
Por que não?

Eu + Vc

Eu ainda não achei uma faixa favorita. O motivo é que a cada vez que ouço esse disco algo salta que não devia passar despercebido. A música de Tássia conversa com muito a todo momento, e Próspera é sem dúvida um dos melhores álbuns de música brasileira do ano e uma experiência indispensável.

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Amor além da matéria – sobre "Ela", Spike Jonze (2013)

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Mais que sobre a realidade versus artificialidade- trama bem explorada nas distopias modernas e, mais especificamente, pelo Black Mirror- o filme “Ela” (Spike Jonze, 2013) se trata de como nos relacionamos da mesma maneira em todos os campos da vida. Também é sobre um amor diferente do visto nos livros e poemas; um amor real e introspectivo, provindo de uma jornada de redescoberta de si.

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A fotografia de “Ela” há de se destacar; além da maneira tocante dos personagens de se relacionar, a movimentação, focalização e enquadramento do filme dão a ele outra dimensão.

O filme começa (genialmente) numa cena que viraria cotidiana no longa-metragem: Theodore (o personagem principal muito bem interpretado por Joaquin Phoenix) redigindo uma carta pra lá de tocante. O filme quebra as expectativas mostrando que esta é para alguém não relacionada ao protagonista, mas cliente da empresa na qual trabalha.
O envolvimento de Theo com a inteligência artificial ‘Samantha’ se dá de uma maneira controversa, mas natural (com a voz emblemática de Scarlett Johansson). Sem a possibilidade de materializar-se, pela falta de um corpo, Samantha se faz presente na vida do protagonista mesmo como um “computador”. Firmando-se como uma par-romântico, com sentimentos e pensamentos extremamente humanos se torna querida do espectador, além de uma verdadeira agente na vida de Theo.
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Theo se assemelha muito, na minha visão, à Paulo Leminski, grande poeta brasileiro. Ambos escritores, sensíveis e… com um notável bigode! (Acima, Joaquin Phoenix como Theodore. Abaixo, Paulo Leminski).

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“Acaso é este encontro / entre o tempo e o espaço / mais do que um sonho que eu conto / ou mais um poema que eu faço?” – Paulo Leminski,

 
A relação do protagonista com 3 mulheres principalmente faz a pergunta “a quem se refere o título ‘Ela’ se refere?” pode surgir, mas é só assistindo essa obra-prima do Cinema para chegar a conclusão: seria Samantha, a ex-mulher Catherine ou a melhor amiga Amy?
Fica mais que recomendado o filme “Ela” de Spike Jonze.
 
 

Ponto parêntesis Léo: conteúdos inspiradores e complementos

Antes de escrever essa resenha, dois vídeos me inspiraram a ver “Ela” e com toda certeza influenciaram minha maneira de assistir o filme (e creio que muito para o lado bom), por isso deixo aqui dois vídeos: um do Quadro em Branco, um canal do Youtube sensacional que trata de assuntos culturais-filosóficos-sociológicos de maneira sensacional (sou seguidor fiel do canal) e outro do Gustavo Cruz, um canal que conheci agora, mas com a produção interessantíssima. Fica a dica!

(Este vídeo trata mais da dimensão amorosa nos dias atuais, muito presente na discussão do longa, não se retrata diretamente ao filme em si.)

(Este traça paralelos entre “Ela” e “Lost in Translation”. Trás o background de criação do longa em questão, por isso tão precioso!)

 

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A Segunda Pátria-Miguel Sanches Neto

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AVISO: Será feita uma nem tão pequena resenha. A partir das bolinhas pretas (tópicos) temos as melhores reflexões do livro, onde no tópico se encontra a estrutura: Parte, ano (Página). Boa leitura!

O livro é dividido em 4 “partes”, as quais, por sua vez, tem capítulos. O tema do livro é nazismo aplicado ao sul do Brasil, porém de uma maneira inusitada: o autor modifica a História, criando uma aproxima

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Capa do livro “A Segunda Pátria”, edição de 2015 (1a edição)

ção de Getúlio Vargas e Adolf Hitler. No total, a trama se passa desde meados de 1930 até (quase) 1945.

Para contar essa história, Miguel apresenta 2 personagens principais, Adolpho (ou Trajano) Ventura e Hertha, mas usa o passado de muitos personagens na trama para narrar um enredo (apesar de fictício) extremamente realista. O autor ainda usa figuras históricas reais (como Benjamin Vargas e Gregório Fortunato) como personagens.

Achei o livro maravilhoso, vale completamente a leitura para se entreter, mas principalmente pela experiência histórica por ele trazida. Sanches é doutor em Teoria Literária (UNICAMP) e fez uma profunda pesquisa para o desenvolvimento desse romance (todas as fontes utilizadas localizam-se no final do livro, no capítulo de ag

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 Capa do livro “Um rio imita o Reno” de Vianna Moog, citado no capítulo de agradecimentos, pois faz diálogo com o livro criticado.

radecimentos), dando uma base profundamente firme para o autor.

De crítica, senti um certo machismo pela parte do autor em uma ou duas partes (algo que para mim é triste, mas pode ser simplesmente pela natureza do livro), uso de certos consensos errôneos na narrativa (o uso da palavra anarquia de maneira errônea chamou minha atenção..) incomodou. É um livro para ser lido (pelo menos) duas vezes, pois a narrativa, com o final do livro, ganha outro significado.

Agora, vamos para os melhores trechos reflexivos, escolhidos por mim. Eles podem ser compreendidos sem a leitura do livro, mas com a leitura, ganham um significado muito maior… enfim, vamos lá.

  •  Neger, 1940 (Página 30)

“Mãos acostumadas às armas dificilmente amam virar páginas”

  • A teoria do lobo, 1941 (Página 202)

“Diante da música, da alegria geral e da bebida, não restava a opção da tristeza, nenhum de seus remorsos prosperava, ela só podia se fazer alegre, não se achava feliz, porque felicidade era algo bem mais complexo, mas a expansão de alma podia ser experimentada na sua condição.”

  • Kanibalen, 1941 (Página 276)

“O passado era sempre algo que se queimava rapidamente. Eles estavam abandonando a escravidão. Não queriam olhar para aquela parte das próprias vidas. Que desaparecesse logo. E que tudo que sobrasse fossem coisas carbonizadas, da mesma cor daqueles homens que se perdiam na noite que os absorvia”

É isso. Sim, trechos pequenos, e poucos, mas é um livro cujas reflexões acontecem em decorrência da situação em que o narrador onisciente está analisando, observando o passado das personagens, sua sensações e seus pensamentos delirantes.

Até a próxima!

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