Fotógrafo- Victor Dragonetti
Solitário é o sanfonista que, com muita boa vontade, solta notas a um casal. Eles, sem dó ou rétenção de suas vontades, se beijam só esperando.
Solitário é o homem, que ama a garota, mas espera o ônibus que a leva longe, onde sua menina geralmente está, deixando-o sem seu espírito.
Solitária é a garota, que não tem a coragem de contar a ele a verdade, e acabar com algo gostoso, mas temporário, pois espera o sentimento certo, não encontrado nele. Sente que perde tempo, assim como vai perder o ônibus na sua frente e nunca esquece isso.
Solitária é a outra garota, observando o casal beijando, tentando desviar o olhar e esquecer que ele pertence a outra. Possivelmente, ela está enganada, mas o olhar dele quase elimina a possibilidade: o amor nunca deixou o coração dela e sozinha sempre esteve desde que ele partiu, para estar com outra.
O mais solitário é o fotógrafo, que, apesar de não sentir nenhum dos sentimentos citados, quer sentí-los mais que tudo, mas a única coisa que pode fazer no momento é pegar sua câmera e recordar esse momento de complexidade sentimental paulista.
Porém, a maior dor é a do poeta, prosando em cima desse momento pois, para isso, ele sentiu na própria pele a solidão de observar um momento, a de ver um amor se distanciar, de não estar com um amor, de perder um amor e de desejá-lo intensamente.