Se meu destino transita Entre o que é e o que imita Distinguo o que me irrita, como me excito E escolho o que rejeito, o que aceito. Não vivo todo afoito, Há o que me anima Agora, com dezoito Não posso ver por cima
Infelizmente, quando a ouvi pela primeira vez, numa cypher do RapBox, Sinfonia da Revolução, eu não curti muito; pra ser sincero, naquela cypher eu só gostei de metade da música. Eu admito, desde esse momento, que a voz era boa, mas por algum motivo o verso, a quebra de ritmo do beat não me agradaram. Mas tudo bem. Não foi a última vez que trombei com ela em playlists.
A segunda vez foi seis meses depois, no single “Contramão“, da Pitty.. Pitty é uma artista que eu tenho como querida, mesmo não sendo minha favorita. Dessa vez, Tássia roubou totalmente a minha atenção. Apesar de um tipo similar de participação, no sentido de mudança de ritmo e tudo mais, dessa vez eu não conseguia tirar aquilo da cabeça; porém ainda sim a primeira impressão de seis meses antes não havia desaparecido.
Algum tempo depois, provavelmente em alguma playlist de novidades ou no DailyMix do Spotify, ouvi duas músicas de tons completamente opostos da mesma: Shonda e Se Avexe Não. Aí não teve como negar que o primeiro verso ouvido era uma peculiaridade- ou realmente algo fora da curva de qualidae dela ou alguma frescura minha que eu não consegui identificar sozinho, mas, de qualquer maneira, o fato é que a Tássia é extremamente talentosa e tem muito pra falar, de maneiras diversas e maravilhosas.
Se avexe não Não chore Nem se demore nesta dor Porque acalanto do seu coração Está vindo E é tão lindo quanto esta canção
Se Avexe Não
E pouco mais que quatro meses depois, ela lançou um disco novo, que ouvi sem compromisso algum no trabalho a primeira vez, e estou ouvindo uma ou duas vezes por dia desde então: Próspera.
Tô na contramão do sistema Eu tenho medo da polícia Mais de você, sinto apenas pena
Esse álbum é simplesmente incrível. Tássia usa e abusa da sua voz poderosa, mas não tem medo de colocar um auto-tune para alcançar efeitos diferenciados. em uma faixa solta punchlines cirúrgicas e na outra fala de amor com uma leveza tocante.
Como eu falei no começo, minha experiência com a Tássia é limitada, e talvez por isso eu ainda me impressiono com a flexibilidade artística- mas eu acho difícil. Não me lembro a última vez que vi um álbum que mesclou com tanta maestria um R&B, trap, MPB, jazz… enfim, deu pra entender a extensão dessa habilidade.
Tudo é uma incerteza Mas senta aqui na mesa Me paga uma breja E pensa eu mais você Por que não?
Eu ainda não achei uma faixa favorita. O motivo é que a cada vez que ouço esse disco algo salta que não devia passar despercebido. A música de Tássia conversa com muito a todo momento, e Próspera é sem dúvida um dos melhores álbuns de música brasileira do ano e uma experiência indispensável.
Mais me dói Saber que foi Do que não ser Quem diria... Há 1 ano não poderia Ter feito tanto estrago Mas aqui me vejo Expulsando um desejo Por falta duma falta.
Não penso em você Mas se penso, É com melancolia, não saudade De quem era companhia sem maldade E fica então essa vontade De expressar o que vem do coração Somente ao chegar a ocasião
Há muito já te quero mas não via um momento de
dizer. As tentativas foram infinitas, mas o momento nunca parece certo; o sol
se esconde, ou minha coragem desaparece, ou brigamos, ou tudo é perfeito, mas
falta algo. Eu consigo te descrever desde o fio de cabelo, menina dos olhos,
defeitos do nariz, tamanho de pescoço, seios, formato da bacia, volume das
coxas e o quanto tu calças. Eu sei o que aprecio em cada uma dessas qualidades e
nas que não podem ser observadas. Demora para eu colocar pra fora que te quis e
quero.
Sabe, não faz sentido só falar dos seus olhos:
que são azuis, você já sabe; a maneira com a qual eles se impõem sobre tudo
observado também não é segredo; qual pequeno detalhe eu devo colocar para
ilustrar o quanto eles me atraem? Não sei. O mesmo vale para teu corpo, tua
mente, teu espírito. Sinto que tua alma me atrai, tua aura me toca- mas se nem
os grandes poetas conseguiram falar tudo do amor, quem sou eu pra tentar te
dizer? Mesmo a lista completa tem furos, porém, é negligente não listar.
É negligente pois eu hei de te dizer tudo que
amo. Mas, quanto mais falo que te amo, você parece não ouvir. É um efeito
bizarro: o que eu sinto precisa ser externado, mas entrelinhas parecem
inexistentes para você. Se não falo, não te atraio. Se te calo, te espanto. Sem
falar do que tenho em mim pra ti, fico angustiado. Preciso falar para que
saibas; precisas ouvir para que possas dizer.
Mas não falo. Não ouves. Não sente o mesmo. Não
nos unimos. Fico sem voz para ti. Qualquer um vê que perco a vitalidade a cada
momento.
Sem mais meios para lhe comunicar, expressar e suceder,
ouso pôr em palavras o indescritível, para quem sabe você entenda. Ouso tentar
tirar de mim algo essencial, para quem sabe tu sintas o quanto és especial.
Tiro da minha mente um pouco de mim, para quem sabe você me tenha contigo…
Tô tentando achar um equilíbrio Um meio do caminho Entre morrer sem limites tão cedo Ou viver feito velhinho O suficiente pra olhar pra trás E ter consciência de que se houvesse mais, Via menos Consciência de que viver para sempre Não podemos Mas posso ao menos ver meus netos Mas posso ao menos escrever livros
Enfim, Há muita vida a ser vivida Pra gastar numa rotina suicida Mas também a vida é curta demais Pra viver num constante estado de paz.
As montanhas são cobertas por árvores E as plantas a base em seu chão Cai sal na pia de mármore Do tipo que esteve em sua formação Sem misticismo só constatação Tudo vem do Tao, para ele volta A presença ausente e a ausência presente.
Algo que odeio e o quanto eu quero te odiar Mas não consigo Eu queria bater a porta, trancar, jogar a chave longe Meter móveis na frente Tudo pra não ver nada que toque tu Rupi Kaur acertou na mosca: O ar não tem uso, A luz não é bem vinda, A água sujismunda.
Mas não consigo. Se fosse eu no teu lugar, não me perdoaria.
Estar a sós é um exercício Quando começa, parece tão difícil, Mas necessário, instigado e executado Como tivesse endorfina, dá prazer sem estrago Porém pode doer sem querer, quem sabe Pra ser sincero, nunca se sabe Às vezes acordo sem vontade e estar comigo é punição Em outros tenho certeza que só preciso de atenção E até quando o dia é pesado, aumentando tensão Pode ser que eu resolva no diálogo Ou solilóquio de papel na mão. Não sempre cabe ficar sozinho, por isso é uma arte A oscilação do desejo também faz parte.