Lembranças são antiguidades que valem a pena

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Peguei aquele álbum velho
Sentei em minha cama
Numa daquelas noites de se olhar ao espelho
Se perguntando quem agora me ama
Por que a vida assim está
Mas sem chorar, com momentos de reflexão
Aproveitando o momento com a melhor intensão

Porque, talvez, a beleza da vida
Esteja nesses bons momentos
Nos quais olhamos fotos
Lembrando da felicidade oferecida
Não em um jatinho ou cobertura
Amar e desamar
Mas sim no olhar para trás
Momentos com pessoas que não vem mais
E sorrir sem nosso passado relutar

Quem sabe a questão
Seja ver que o mundo sempre está eterno
Ou caindo aos pedaços
Devemos notar, então
Que o ser humano é subalterno
De um ciclo de choros e abraços
Tapas e amassos
E como é bonito ver como são
Os momentos de olhar a fotografia
Lembrando do amor infinito
Daquele momento
E em poucas palavras negocia
O que deveria ter sido e o que não

Na verdade, todos eram
E nenhum, pois
Se aconteceram, deviam
Se acabaram, já não mais
Se olho para a foto com saudades
É de um tempo longínquo e já impossível
Dando risadas de algo inadmissível
E na época fui incapaz
De rir como gargalhei agora
Vendo como tudo o passado explora

Peguei aquele velho álbum
Sentei na cama minha
Naqueles dias nos quais Dona Zinha
Diria que o povo lá fora ficaria bebum
Porque é difícil ver a vida com sua beleza
Mais fácil vê-la com asco e aspereza
À olhar pra tantas fotos de momentos finais
Com felicidade por estes e pelos inícios
Pelas metades e tudo mais

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Uma (rápida) história de amor dinâmico- As Crônicas de um Fotógrafo

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Conheci Maria num lugar diferente: em baixo de um poste.
A gente se trombou ali, deixamos as malas caírem e aconteceu, como se fossemos Eduardo e Mônica. Sem querer, trocamos algumas folhas (por acaso, importantíssimas pra minha prova em 1 semana), e em uma delas tinha o nome dela, e no momento em que percebi o sumiço de tudo, procurei-a imediatamente no Orkut (sim, ainda era assim naquela época).
Começamos a conversar um pouco; ela estava cursando engenharia, eu psicologia. Ela amava física, eu gostava mais de estudar o físico humano. Ela amava São Paulo e o Rio, eu queria era Dubai, Buenos Aires e Toronto. Eu chamei ela pro teatro, ela quis ver filme alugado (posteriormente seria um netflix, mas enfim).
Rápidamente nos tornamos amigos. Ela namorava um tal de Gabriel (gostava do cara mesmo) e eu tava caindo por ela. Digamos que eu não tinha ciúme, mas mesmo assim ela nunca dava muita bola… até o dia que eu chamei ela pra ir pro campinho tirar foto.
Nesse dia ela me viu de um jeito diferente. Como psicólogo, sempre amei estudar a mente através de expressões artísticas e me tornei um fotógrafo. Olhando para ela, tirando suas fotos… ela simplesmente me amou. Em cada flash, senti-me mais amado e mais importante. Em cada pose ela se deixava amar mais, se deixava mais aberta. Uma semana depois, Maria terminou com Gabriel.
Eu não acreditei quando me contou. Ela veio em minha casa, abriu a porta sem pedir pra entrar e chorou. Não porque tinha terminado um namoro de 2 anos, mas porque pensava mais em mim no que em Gabriel. Ela chorava enquanto pedia desculpas por confundir tudo e estragar nossa amizade, sem saber se tentava voltar para ele, mesmo não o amando.
Eu olhei para ela e disse que não havia porque se desculpar, pois o sentimento era recíproco e a relação podia crescer (e muito) com o tempo e profundidade.
Nesse dia, nos beijamos pela primeira vez.
Já estávamos terminando a faculdade, então logo começamos a morar junto- já nos conhecíamos a 1 ano e meio, mesmo o namoro sendo recente.

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Foto por Márcia Kaori

A gente saía sexta para o bar, sábado pro cinema, domingo em casa. Fomos pra Dubai, moramos 1 ano no Rio e voltamos pra Sampa. Visitávamos exposições, teatros e vimos todos os filmes do Netflix. Ela via todas as minhas fotos, eu tirava um monte dela. Eu atendia pessoas na rua de baixo, ela fazia projetos na sala de casa.
Passaram-se 3 anos após o início dessa rotina, e algo extraordinário aconteceu: uma casa foi construída na frente daquele poste e tiveram que derrubá-lo. Felizmente, o dono da casa não quis deixar o lugar escuro, e colocou um “lustre” velho para ajudar… peguei minha câmera anteontem, tirei uma foto dali e mostrei para Maria. Não contei que vou pedir ela ali, mas…
Será que ela aceita?

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Ordem!

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Olá, velho mundo
Aqui quem narra é o novo poeta
Com visão para todo o absurdo
E eliminá-lo é minha meta
 
A nova poesia segue nenhuma lei
Métrica ou obrigatoriedade
E a escrevo do jeito que sei
Sem escola, só a realidade
 
Não preciso de suas academias
Cartilhas ou aulas de literatura
Bandeira e Andrades me passaram manias
E as copio na cara dura
 
Faremos sua destruição
Do mundo que conhece hoje
E daí a criação
Da Anarquia como nunca se pode
 
E Proudhon se orgulharia
Bakunin brindaria a inconfidência
Autores míticos, não velharia
E sem liderança continuaremos a dissidência
 
Rasguemos o tal “contrato social”
Escrito pelo dinheiro,  medido pelo capital
A única Vontade ouvida agora
É a dos ricos irem embora
 
Sem mais exploração!
Agora, a sociedade inacreditável
O mundo novo para admiração,
Para mais novos poetas, almejável
 
Seja realista!
Demande o impossível
Utopia é mal vista
E nunca crível
 
Mas é só abrir os olhos
O novo poeta já surgiu
Um mundo assim é incrível
Verdadeiro e chegará
Esperem olhando seus relógios

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Desenhos- As Crônicas de um Fotógrafo

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Coração tão difícil
A gente não entende muito bem…
Se até no desenho tem a dúvida
A resposta pode estar com quem?
Pra vocês é igual
Sentimento ou chama
Passa um monte, e no geral
É o 5º amor da sua vida nessa semana
Para que esse desespero
É medo de ficar só?
Deve estar já costumeiro
Enjoar quando começa a pegar pó
Sentimentos não entendo
Nem os meus ou de qualquer
Deixo o mundo continuar assim
Amo e desamo como der

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Boas vivências

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Boas vivências

Toma outra dose, mandando tudo para dentro de si. Desce queimando, claro, mas o incômodo é outro. A sensação ali é extremamente familiar, quase monótona, pois é a experiência de sempre, independente do lugar onde está: achar o pequeno bar da região, ouvir a conversa dos bêbados locais e tornar-se um dos ébrios.

Eles discutem as novidades alto o suficiente para ele não ter de olhar disfarçado ou sequer fazer esforço. “Cê viu esses sumiço?” “Vi sim, mas era só estrangeiro, então menos mal” “Que será que acontece?!” “Num sei… já faiz muito tempo que acontece esse tipo de coisa” “Meu patrão, desce mais uma pra nóis!”

“Cidade praiana e pequena, não há muito o que se preocupar” pensa Aureliano. “Os viajantes devem encher o saco daqui e vazar.”

O bar é extremamente pequeno. Quatro mesas de plástico Skol, um balcão médio, com a capacidade para abrigar (talvez) 8 pessoas. A vista faz valer a pena, de frente para o pier. Pessoas passam na frente do estabelecimento e ignoram a presença deste, em parte pelo desconforto com tal nível do lugar, em parte pela estonteante beleza das águas.

Olha um pouco além e vê dois barcos navegando próximos. Não entende nada de navegação, mas aquilo é próximo demais para o porte dos veículos marinhos. Ele não consegue notar o fio vermelho descendo de um dos barcos ou que há conversa entre os capitães. Segue a linha provável do caminho com os olhos e resulta em um passeio de barco de uma hora e meia.

Não há detalhes do caminho (e de nada adiantaria, afinal, não conhece os mares dali), mas somente os horários: 13h, 15h, 17h e 19h. Olha seu relógio de bolso, e nele consta 16 horas e 39 minutos. Decide pegar o passeio das 17, mesmo levemente alcoolizado, nada mal seria um pouco de mar. Quando vai colocar o relógio em seu lugar, se pega olhando a ele.

Prateado nas bordas e aberto no meio, de tal forma a tornar visível toda a estrutura interna do dispositivo (aparentemente), protegida por uma camada de vidro. Guarda-o por diversos motivos. Era de seu avô, veterano de guerra, que apesar de nunca ter saído de casa com uma arma de fogo sequer, não ia nem à cozinha sem o tal objeto. Com um girar específico no marcador de tempo (como um cronômetro antigo), o relógio liberava clorofórmio em gás. Por isso ele era mais fundo que o necessário e extremamente pesado. Não poderia deixar acontecer algum acidente e o dono do relógio de bolso morrer.

Além disso, a tecnologia é o asco de Aureliano, e ninguém ousa contrariar seu nojo. Mas o questionamento de todos (incluindo ele próprio) sempre caiu no fato de ele não estar onde está. Ele está fisicamente no bar, mas ao invés de prestar atenção na própria bebida, presta na conversa atrás, e não em seu petisco, no lindo mar ou o próprio céu. Normalmente, culpa-se os tais smartphones por remover o humano de sua esfera, como explicava-se a condição do garoto? Não se explicava, pois com 20 anos, indo para os 4 cantos do mundo (com vida simples pras possibilidades tidas) ele ainda não vivia. Portanto, sem celular ou tablet para olhar as horas, recorria ao clássico relógio de bolso.

Leva consigo, além do relógio, uma faca, a carteira e as chaves da motocicleta. Tudo embalado em sacos impermeáveis- organização sempre será a maior atenção deste.

Olha para o dono do bar e pergunta a conta. Ouve o valor e não se questiona se ele é ou não absurdo para algumas doses de vodka barata daquele jeito; não por confiar na natureza do vendedor, mas por não lhe fazer falta 20 reais, ao passo que com eles, o dono poderia colocar a droga de uma mesa a mais.

Atravessa a rua cheia de areia, não permitindo-o checar se ela tem ou não asfaltamento. A moto ficou estacionada ao lado do bar, e pela pseudo-gorjeta dada, o dono do bar não deixaria ela ser roubada. Ao menos é assim que Aureliano pensa, e certo está. Para na calçada do meio da rua (usado para dividir vagas de carro de vias) e se apóia em um poste. Sente uma tontura forte batendo, e decide deixar o passeio para as 19 horas, afinal, seria o último do dia, possivelmente mais cheio de gente da sua idade e interessante.

Vai até o suposto porto do navio e pergunta para a mulher se poderia comprar lugar para o das 19. Ela o mede, de cima a baixo procurando traços de policial, mas Aureliano é relativamente magro, de chinelos, regata e olhar perdido de quem já não tem fé. Ela permite a compra, e ele supõe estar sendo observado para merecimento de ir no passeio. Coitado.

Compra o seu ingresso e é advertido a estar 19h naquele ponto, pois só então entrariam no barco, e 10 minutos depois iriam. A segunda suposição é de que a mulher, na verdade, estava flertando com ele. Coitado. Morena dos olhos castanhos, cabelo longo e olhar de desprezo, ele logo refutou sua idéia. Despede-se e promete chegar no horário, não perderia o passeio por nada.

Encaminha-se para a moto e olha novamente o horário. Já que seu hotel é na rua de cima, teria duas horas para melhorar sua cabeça e estar pronto para o passeio. Na verdade, o fazia mais pelo esforço de viver a vida de alguém que não ele- o último desejo de seus pais fora direcionado a ele viver a vida do melhor jeito, e a herança o permitiria fazê-lo.

Quando tira os olhos do relógio, vê uma moto vindo em sua direção, e diminui conforme chega mais próximo dele. O passageiro, sem capacete e munido de uma peixeira, coloca-a na barriga do ébrio e o manda passar o celular. Num meio reflexo dado por sua longa experiência em artes marciais, ele dá um leve tapa na faca, fazendo-a sair da linha de seu corpo, e com o cotovelo a derruba. Dá um soco no passageiro e empurra o motorista da moto, o derrubando e fazendo o veículo cair para o lado dos meliantes. Desesperados, abandonam o local rapidamente, sem sequer olhar para o rosto da possível vítima. Mesmo com reflexo reduzido, Aureliano ainda era extremamente habilidoso.

Com sua moto em mãos, faz uma curva para ir ao hotel, passando pela avenida da praia. Sempre olhando para frente e procurando a rua para entrar, perde toda a beleza do mar meio verde e meio azul, cheio de pequenas quebras brancas espumosas, fazendo um deliberado convite para dar um mergulho. Mas ele entra na 3a rua. Sobe ao quarto rapidamente e apaga no encostar da cabeça no travesseiro.


Abre os olhos numa calma absurda. O sol leve ainda bate, tornando o quarto morno sonolência, e não quente insônia. Pega o relógio do avô para ver o horário e se desespera: são 19h. Enfia os chinelos no pé e dirige com velocidade até o cais, voando até o lugar de encontro. Chega em 3 minutos, com o peito explodindo e visão turva do desespero.

Recebe olhares tortos da mulher e do capitão. Dá o ingresso à mulher meio trêmulo, característica advinda da explosão até o lugar. Ela recebe meio impaciente, mas ele não nota nem isso ou o leve corte na mão dela, não tão profundo, mas notável, muito menos a leve mancha vermelha no convés no qual pisaria em poucos segundos.

O barco é bem cuidado mas velho. Aureliano olha para a estibordo, à sua direita, e vê a figura contraditória  (em sua mente) de um pirata. Questiona o sentido de um símbolo da ilegalidade nas navegações para um serviço aprovado pelo governo.

Se o governo aprova ou não… é complexo. Talvez apoiasse os passeios, afinal, movimentavam a economia regional, davam um ar mais interessante à cidade. Mas a verdade é que não apoiaria caso soubesse de tudo. No fim, faz completo sentido o pirata no mastro.

Olha para os lugares disponíveis e escolhe o mais próximo da bóia; não é medroso, mas prevenido. O aviso de segurança é dado e, como nos aviões, ignorado por todos a bordo. As caipirinhas chamam a atenção de quase todos.

São aproximadamente 20 pessoas ali. Ouvindo as conversas, nota o padrão social dali: viajantes ricos e jovens. Sua mãe não ficaria mais orgulhosa, pois apesar de não está se misturando, estar ali é esforço suficiente.

A caipirinha de limão é tudo o que importa para ele. Coloca cada vez mais para dentro, sem notar a distância tomada da costa, o mar agitado e o céu preto. Todos já se organizam para o ataque em uns 30 minutos.

Aureliano começa a chorar. Não entende o motivo, não se pergunta também, acostumado a levar o mundo como ele é, simples ou complexo. Numa das muitas doses, que fizeram sua imagem para a tripulação bem frágil, ele tem um delírio.

– Em seu pseudo-sonho, Aureliano se vê numa das muitas das discussões com seu pai.Eu não quero pai. Não sirvo pra Medicina.

– Tudo bem. Direito então.

– Também não.

– Engenharia? Arquitetura? Contabilidade? Letras? Moda?

– Não pai, não! Para de enfiar faculdade pra minha goela.

– Não vou Aureliano. Mas você tem que achar algo para fazer. Você não pode passar o resto dos seus dias olhando para o teto de casa.

– Mas pai…

– Aureliano, já tem muito tempo que eu devia ter te falado isso. Mas filho, é o seguinte. O mundo funciona como uma noite gelada. Mais do que você conhece, de um jeito só possível pra cima do Canadá. Naquelas noites, temos poucas possibilidades.

“É mandatório acender a lareira. O fogo revitaliza tudo, e ai começa a vida de fato.

“Você vai olhar pela janela e ver neve. Branca e atraente, com os raios de luz da lua iluminando a trilha. As árvores resistirão aquela temperatura e melhor paisagem não haverá. A escolha será óbvia: ir até lá.

“Mas a cada passo que você der, sentirá seu suor congelando. O conforto do fogo pela falta de calor acaba, e você é largado a própria sorte. O questionamento é: voltar ao fogo ou sair ao frio?

“O problema não é um ou o outro, mas ficar no meio. Você não está no conforto ou na beleza, mas no terror da dúvida. O problema, Aureliano, é que você não sequer duvida. Em suma, você não vive. E está na hora de começar a viver.”

Não sabe quanto tempo passou naquela brisa, mas ao sair dela se determina a cumprir o conselho do pai. Só estar ali não bastava, quer viver. E que oportunidade de demonstrar essa ânsia, não?

Pois nesse momento começam os gritos no deck de cima. Aureliano olha a frente uma porta e se joga contra ela, afinal, não havia ninguém olhando ou naquele lugar. Sua respiração acelera, o peito bate mais forte: é a adrenalina.

No andar de cima, os marinheiros revelam sua verdadeira cara. Na verdade, forjam os passeios como forma de atrai vítimas para morte e roubo, como se fosse um conglomerado de psicopatas. E faziam agora o seu prazer, deixando sangue escorrer pelas bordas do navio (como o fio vermelho no casco), assustando Aureliano.

A tripulação é de cinco. Um veleja, os outros matam. Os gritos de cima pararam e a chuva ameaça, sem molhar, mas trovejando. Ele espera a passagem dos marinheiros e corre para o capitão, que, ao invés de gritar, tenta eliminá-lo sozinho.

Mas ele não conta com a faca de Aureliano. De primeira, o capitão morre, e o homem deixa o timão travado, para evitar maiores problemas. Escurece devagar e o clorofórmio passa a ser valioso.

O relógio é furado e atacado de cima para baixo, e quando segura, um psico morre inalando. Uma mulher inocente se joga ao mar, tentando fugir inutilmente, pois acaba morrendo, e os outros três vão em cima dele.

Assim, todo molhado de sangue que escorria, com duas mortes nas costas, vai Aureliano defender sua vida recém conquistada.

Um por um, com facadas, socos e empurrões para fora da embarcação, Aureliano mata todos. Não sorri. Não chora. Apenas olha ao alto e ouve o trovão final antes de cair a chuva.

Ela cai com força. Uma das maiores da época. O navio transborda, mas tudo o que sai dele não é água, mas sim correntes de sangue. Aureliano olha para cima, ciente de seus atos, mas feliz por estar sentindo o banho de alma que está sendo aquela chuva

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Natureza cúmplice- As Crônicas de um Fotógrafo 

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Andando pela cidade, não encontro nada de muito interessante. Criei esse hobbie na adolescência: andar pelos lugares caçando histórias, como se a rua fosse a extensão da janela usada pela minha avó para saber da vida alheia. Só observava tudo, em silêncio cúmplice.
Já havia um contrato entre os moradores e eu. Ao início, achavam estranho um menino andando quieto, olhando tudo. Acanhavam-sem com medo do julgamento social da rua. Foram notando meu jeito quieto… paulatinamente, eu já não fazia parte do corpo social daquela comunidade. Era um acessório, um eterno expectador.  Os novos entravam no bairro, achavam ruim, má acabavam se acostumando.
Lembro-me da primeira fofoca escondida por mim: uma mãe fugira de casa. Deixara a filha a mercê do mundo durante 2 dias, mas ninguém notara. A única pessoa consciente daquilo era eu. Podia acabar ajudando a garota? Chamando a polícia? Claro. Mas nunca fiz. Nunca me pareceu importante.
O importante foi quando o bairro cresceu e virou comunidade. Certa vez, subindo as ruas, dei de cara com a casa de um moço alto, forte. Vi ele pegando a peixeira, apontando pra moça. Se entendi bem, ela falou algo como “Não precisa! Eu pago!”, e logo em seguida já vi a peixeira em cor vinho.  
O homem chegou em mim, por ver que eu assistira a tudo, e me puxou para dentro da casa. “Já tô sabendo dessa sua fita de autista, mas já te digo que se isso vazar, quem morre é você moleque.” Sai dali em desespero, mas quieto. Desta vez, eu realmente tinha virado um cúmplice. Meu crime era ser eu mesmo.
No fim, a verdade foi sempre essa. Mesmo agora, nesse parque, vivo uma vida de outros. Uma história dependente diretamente aos problemas alheios. Saí de casa com uma câmera, apesar de nunca agir por si só, impossibilitando o uso desta.
De repente aparece uma garotinha. Deve ter uns 8 anos. Parece moradora do bairro, apesar de nunca ter visto ela, pois está sem pais e muito feliz para o lugar onde está. Ela senta no banco esperando algo. Suponho ser algum responsável.
Ouço uma corredeira atrás de mim. Um menino, da mesma idade dela anda com as mãos atrás do corpo. Sorri grande, como travesso. O que será que guarda?
Conforme anda, vem o buquê de flores enorme em suas pequenas mãos. Ele olha para a garota, sem falar nada, e ela ri. Ele também, e alto. Nesse momento, levanto a camera rapidamente e bato a foto dessa cena. Ela pega o buquê e dá um beijinho em sua bochecha.
A foto representa muito para mim. Desejo ser exatamente como o menino.
Desejo ser atuante, não cúmplice. Ele demonstrou seu sentimento, seja lá qual for com um gesto lindo e pessoal. Não esperou receber ou quis ver alguém fazê-lo. Queria ter sido a pessoa a ajudar a menina abandonada, não esperar a mãe dela voltar.
Desejo ser inocente, como antes da noite em que vi o assassinato de uma mulher pelas mãos do traficante, removendo toda minha infância junto da vida da mulher. O garoto não teve a malícia de beijar a boca. Pelo contrário, se animou com a bochecha, já completamente vermelha.

Talvez, quem sabe, aquele moleque devia ser eu.

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Antecipação

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Meu amigo
Deixo toda minha história pousada em teu colo
Pois vou abandoná-la durante um tempo
E preciso que dela você cuide pra mim
Preciso que minha memória seja guardada
E por alguém que conheça-a
E aceite-a

Deixo minha poesia escrita em teus pulsos
Pois sei que não irás apagá-la dali
E que levarás teus braços ao peito quando sentires minha falta
E nesse momento (e só nesse)
Sentirei a saudade sentida por ti junto à minha
E chorarei só
Escrevendo em ti mais um poema

Largo nas tuas mãos minhas lágrimas
Pois confio em ti para limpá-las do meu rosto
E quando isso acontecer
O silêncio de minha boca será compensado pelo desespero
Vindo dos olhos e nariz
E tuas mãos leves irão erguer-me novamente para continuar

Ajoelho-me aos teus pés em agradecimento
Por toda a vida que pode ser contigo
E fizemos ser
Por toda a expectativa cumprida
E pela frustrada
Pois esta frustração gerou expectativa
E nossas aventuras continuaram intactas

Olho nos teus olhos em tom de alegria
Acolhendo minha morte temporária
Largando minha vida
Para viver outra, nova
Mas olhando a tua
Pois esta é a que importa
É esta a que continuará comigo
Pois é esta a que desejo estar presente
E nunca matar

Espero então
Que, por favor
Amizade seja imortal

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Lar, doce lar…

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O nosso acampamento Aruanã
O Vale Encantado
Do qual, tanto tempo, fiquei afastado
Não foge de qualquer mente sã
Segunda casa, um lar completo
De amigos bons está repleto
Uma outra família, difícil de achar
Monitores que cuidam como pais
Brincadeiras melhores do que computador
Não são simples, coisas às quais
Nos despedimos com tanta dor…
Não sei se é a última
E possivelmente será
Então aqui deixo minha homenagem
Meu lar aqui sempre estará
É terrível perda, grande lástima
De fazer chorar até dentro d’alma

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Confinamento- As Crônicas de um Fotógrafo

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O som do sinal interrompe minha fala. Imediatamente, pode ser ouvido o som de  livros sendo fechados sem vontade alguma, quase expulsando o interlocutor de seu espaço; no caso, eu sou ele, me deixando em uma situação extremamente desconfortável. Mesmo assim, não deixo de dar o aviso.
-Não se esqueçam dos resumos para semana que vem… as provas chegam e quero todos fora da escola ano que vem!

Deixo a sala de aula e imediatamente trombo Lili, a professora de matemática.

-Bom dia Rafa, como estamos?

-Muito bem! Agora vou pra casa, última aula. Vai pra onde?

-Acho que para o clube de fotografia. Você deveria tentar um dia.

-Ah, não é minha cara. Curto mais as coisas concretas, entende?

-Estranho, para alguém que cursou história… ela não é nem um pouco concreta.

-Suponho que é compensação, hahaha. Mas valeu o convite.

Gosto de Lili. Após ingressar esse Colégio (cerca de 1 ano e meio atrás) nos aproximamos muito, por não termos o mínimo interesse de participar do grupo mal-falante dos alunos.

Enquanto caminho em direção à garagem, observo o corredor. Colunas baixas, com um pé-direito de mais ou menos 4 metros; sinto muitas vezes que, ao pular, posso bater a cabeça, ou o medo de, do nada, o teto desabar. As paredes são cinza, as portas de madeira extremamente pesada. É fácil perceber a (quase) inexistência de janelas, pois elas se concentram nas salas de aula, e mesmo assim, são repletas de grades de ferro. Após comparações nem tão exageradas, compreendo o ódio dos alunos pela escola. Abro o portão de ferro (o único da escola) e entro na garagem de concreto, e adentro o carro.

Pequeno, com somente 2 lugares e o porta-malas, ele não convida ninguém pretendente de uma família. Oprime essas ideias facilmente, algo nem tão bom, mas o preço valeu. Família é uma idéia que permanece na minha cabeça em todo o percurso a casa. Uma mulher, filhos… mal consigo imaginar como seria, mas vejo uma pessoa: Lili.

Nunca me apaixonei loucamente, mas ela é o mais próximo desse sentimento que tenho. Confio nela, é uma amiga razoavelmente próxima e temos tempo extra-trabalho muito bom juntos. Claro, tenho meu grupo de amigos da faculdade e saímos para botequins e boates, mas o aperto de estar naqueles  lugares abafados e cheios de gente desconhecida não é nem perto de aliviante.

Esse pensamentos já permeiam minha mente a semanas. Já pensei em uma ou duas situações para tratar disso com ela, mas fico incerto e coisas do tipo. Não sinto aquele tesão em ir fazer isso, mas é uma constante, pois nada me deixa dessa maneira.

A buzina arranca na minha orelha. Quais me envolvi em um acidente, e isso move minha cabeça para fora da temática e coloca-a no trânsito. Mesmo num engarrafamento, fico focado oda frente e o de trás, com medo de uma retaliação pelo quase incidente. 30 minutos fico nessa avenida, mas chego no meu apartamento.

20m2. É esse o tamanho da moradia em que vivo. Suficiente para viver sozinho, tudo bem compacto. Sempre economizei muito, apesar de não haver destino para esse dinheiro. Suponho que seja instinto preventor… não compro nada além do necessário. Abro o armário e como um jantar, decido em mente que amanhã falaria com Lili.

Vou na gaveta, pego a câmera fotográfica  guardada para a tal ocasião  (ou só um presente), uma garrafa de Jack Daniels guardada para emergências 3 coloco na minha mochila. Soco umas roupas para esconder ambos; um shorts, uma calça jeans, algumas comidas… e não é possível mais notar a existência de ambos ou da arma branca que guardo.

Coloco a mala no sofá e caminha pra cama. Com roubo de trabalho mesmo, me jogo e durmo profundamente.

O alarme são altíssimo no ouvido, mas estranho o toque. Pego o telefone e vê que estou 30 minutos atrasado. Vou perder a 1a aula. Troco rapidamente de camiseta, passo desodorante e perfume, tomo meu café e saio após escovar os dentes.

Um acidente para a rua e sou obrigado a esperar; agora fica impossível dar a 1a, talvez até a 2a aula.  Ligo para o diretor avisando meu atraso. Após ouvir muitas, desligo e faço meu melhor, chego na escola a tempo de pegar a 3a aula.

Quando esta termina, vou para o intervalo, e sento ao lado de Lili.

-Bom dia  

-Bom… soube que atrasou hoje.

-Sim… infelizmente algo aconteceu e meu despertador não tocou.

-Que pena. Bem, acho que já vou indo para a sala então, tem matéria atrasada e tudo mais no E.

-Espera! Queria te perguntar… o que acha de sair pra jantar um dia desses?

-Jantar?

-Sim, qualquer lugar.

-Rafa, pra que?

-Ah, acho que a gente tem uma química e tal, bons amigos…

-Não.

-Não? Por que?

-Olha, muita coisa. 1o porque é do trabalho. 2o porque não somos tão amigos assim… não tivemos conversas muito profundas nesses ano e meio, né?! 3o porque você é muito morto Rafael.

-Morto?

-É. Você não vive, só está aqui. Você simplesmente se enjaulou na sua vida, nessa escola. Vive uma vida completamente vazia e eu não quero ir junto nessa.  Quero continuar com meus encontros e ambições, não estagnar num apartamento de solteiro, carro de solteiro e vida solitária com meus 25 anos. Desculpa, mas não. Agora, tenho que ir, e o Diretor quer falar contigo.

As palavras dela me atingem como socos. Confinado na minha cabeça, talvez nunca tenha olhado que ela não é bem a mais confiável. que talvez aquela escola seja uma prisão, não uma instituição de ensino. Que esse ambi engr fechado é repugnante para mim. Repentinamente, abandono as esperanças nesse modelo vivido.

O diretor chega perto e eu o mando  ao inferno. Na hora, fica explícita  minha demissão. Pego minha mochila, entro no carro. Lembro de uma estrada distante e por impulso, sigo na direção dela.

Num posto sento para decidir um plano e começo a ouvir um papo de dois homens. Um reclama de sua moto, inútil para a viagem planejada, pois vai com mala. Me meto na conversa fazendo uma proposta de troca; o carrp e pela moto. Pela velocidade e por saber qual carro era, decide aceitar. Após dar e receber as chaves, vou ao banheiro, me troco, ficando de jeans e blusa devido ao vento que rasga. O homem avisa que a moto está ruim, mas dirigível. Não me importo, só quero algo diferente.

Saio do posto em alta velocidade, seguindo em direção às serras mais vazias que consigo imaginar. Paro algumas vezes no percurso, mas nada demais, somente o motor falhando um pouco. Cai a noite e durmo num motel, entrando quando já não tenho energia para andar. Saio de lá 5h da manhã, para seguir estrada, com energia e alimento comprado.

O motor continua falhando e não tenho onde chegar, então, paro no acostamento. Passa pouco da hora do almoço, então, não me preocupo com alguém aparecer e eu sofrer ameaças, apesar de conservar a arma perto, na mochila. Sento na mureta ao meu lado; quando olho para baixo, vem a sensação de vertigem fortíssima da cabeça ao pé, pois abaixo de mim há um rio com forte correnteza, uma morte certa. Mas que importa? O que é a vida se não uma sequência de fatos aleatórios, um resultante do outro, com a constante eminência do final? Nesse momento, deitado neste muro com a garrafa ao meu lado, não estou mais perto da morte do que sentado no chão ou em casa na cama. A diferença mora na vista, pois o céu incrivelmente azul, com nuvens extremamente brancas me animam, e a correnteza faz um som de queda d’Água agradável aos ouvidos.Olho para o lado e vejo ali uma pequena estrada, mais íngrime, porém descendo até a margem. As devidas subsequentes fazem parecer um pequeno desenho, uma seguida da outra, e pego a câmera para registrar essa linda paisagem.

Este é o verdadeiro sentido para a vida, suponho eu. Do que adianta uma vida em locais confinados se a Graça de tudo está na paisagem?

Fim

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