Um vargas diferente?

Leitor, abaixe suas armas por somente um momento. Para ler esse texto, seria extremamente interessante se você esquecesse sua Vontade Geral iluminista, misticismo hegeliano de nação, marxismo convicto. O Brasil demanda um pouco de realismo nesse momento, por parte de todos.
É inegável a tendência global da chamada “guinada à direita”. João Dória em São Paulo, Crivella no Rio. Macri, Brexit e Trump… a lista é gigante. Não tem mais como dizer o clichê do brasileiro não saber votar. Nessa mentalidade, o mundo não sabe votar, visão antidemocrática. A questão é: por que essa ascensão está acontecendo? O que o retrocesso social de Trump tem de atraente em comum a Crivella e Brexit?
Iniciemos com uma pequena análise da tal direita em ascensão. Seria o conservadorismo? Não, Dória não mexe em valores sociais (como Crivella e Trump), nem Macri. Imigração? É um problema grande somente aos olhos do hemisfério Norte. Neoliberalismo? Com um protecionismo proposto pelo (futuro) presidente americano e propostas contra globalização da saída britânica da UE, fica óbvio o não.
Não há fruto nenhum (como mostrado acima) na observação das propostas, pois são contraditórias entre si e específicas para cada situação. Mas e o povo? Será que há semelhança entre americanos, britânicos, argentinos e brasileiros?
A resposta é sim. A periferia paulista, o centro estadunidense, as cidades interioranas inglesas (para não falar também periféricas, comparadas à Londres) e o povo argentino tem um sentimento de insatisfação.
A economia americana melhora, mas duas coisas continuam ruins para a classe média americana, uma que incomoda e outra que deveria incomodar: a renda e a escola, respectivamente. A crise foi superada, mas os salários não compram o mesmo de antes. O Bilionário eleito mostrou ao povo medidas estúpidas “funcionais”. A falta de escolaridade jogou a favor do falso discurso, e o incômodo inexistente com a educação ridiculamente simplista para visão de mundo- objeto a não ser discutido nesse texto, por sua natureza filosófica (“como as coisas deveriam ser…” mas não são)- mostrou-se aliada fiel da falsa economia “trumpniana”. Colocar um inimigo comum causador dos males é uma maneira eficiente de convencer o povo americano, estratégia usada no macartismo, na caça aos comunistas, e agora (possivelmente) haja a perseguição aos imigrantes.
Imigração é tema comum ao Brexit, assim como as medidas falsas. O inglês da cidade grande votou como cidadão do mundo, o do interior, cidadão inglês. Enquanto Londres sabia que a economia, do jeito que ficaria com a saída da UE, não empregaria (ou empregará) a mão de obra penalizada pelas imigrações fortes. Também sabia que o dinheiro dado ao banco comum europeu era ínfimo comparado à quantia gerada pelo comércio com o resto da Europa. A oposição vociferou informações incompletas, e estas foram agarradas pelo povo, e a votação saiu como saiu.
O povo tem baixa escolaridade e tendeu a votar em quem deu soluções para a sociedade, posto antes ocupado pela esquerda. No Brasil, na prática, a esquerda foi mal representada pelo PT durante muito tempo. É de se esperar, portanto, uma quantidade estrondosa de votos no Haddad nas periferias de São Paulo, certo? Certo?
Errado. Pesquisas mostraram vitória majoritária de João Dória em São Paulo, em quase todos os colégios eleitorais. Isso reafirma o supracitado. Não se quer saber da origem da fortuna do prefeito eleito, mas de suas propostas para ajudar o povo, sejam estas propostas de caráter esquerdista (economicamente) ou Neoliberal. Não há interesse em ideologia, mas em propostas.
Qual a lição tirada de tudo isso? A classe intelectual, como disse Pondé, se fechou e, discussões ideológicas pouco interessantes à sociedade real, pois esta vê resultado, não caminho.
A direita vai subir ao poder no Brasil em 2018. Ponto principal é: qual direita é boa no governo? Caso a esquerda não se organize em torno de um candidato de centro-direita, com propostas para o social (além do caráter provavelmente neoliberal), subirá um radical conservador, como se deu nos EUA, e teremos 4 anos de xenofobia, homofobia e  machismo governando. Os momentos políticos recentes demonstraram isso: só gritar “não vai ter golpe” não adiantou nada, e se foi ou não, ficará a cargo da história decidir. Esperar que Brasília não seja presidida pela direita é apostar contra a tendência mundial.
A diferença vai ser: teremos um autoritário preconceituoso ou uma figura dialogável?

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