Arquitetura (a)temporal

O tempo tudo desgasta. Sem interferências externas à natureza, qualquer coisa cai.
As colunas sustentadoras, ao início de aparência invencível com seu concreto e cor alva, só necessitam de alguns meses para os primeiros sinais: manchas poluindo seu visual. Dê alguns anos e pedaços caem ao chão, fazendo rachaduras. Não é necessário falar que um tempo passará, e a coluna deixará de cumprir sua função.
O azulejo quebra com a queda do concreto. Mas, será que além do físico, ele já não está destruído? Ora, a pedra fora a primeira coisa a tocá-lo em anos… e não é esta sua função? O chão já não exerce sua função de apoio. Milênios passarão e pés nunca o tocariam. A dança não ocupou-o mais e a música, portanto, não chega nas paredes em ruína (as quais não cumprem suas funções de barrar sons).
Nas paredes só sobram os pregos de ferro já tomados pela ferrugem, quadros desbotados, uma cruz de madeira já devorada pelos insetos, prateleiras arruinadas pelo tempo. A função de acomodar enfeites já não existe e a desfeita com peculiaridades do lugar é vista pelo mundo afora. Ventos são sentidos com intensidade- sejam eles quentes ou gelados. A chuva entra por todos os lados, inclusive por cima, com a falência do teto.
A cobertura já não existe ou faz sentido. Sem colunas firmes, paredes silenciosas e chão acolhedor, o teto não precisa cobrir nada é muito menos ter apoio. A habitabilidade é impossível e o tempo implacável.
Note que, sem mudança, essa tendência é certeira. Acontecerá, goste o mundo ou não pois construções ruem.
Assim são relações. Necessitam de cuidados para serem estáveis em si, sentidas intensamente, firmes nelas mesmas e (o melhor) cuidado por ambos. O tempo estraga.
Mas, sabe como é né?
Contigo, me sinto em casa.

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